domingo, 17 de junho de 2012

Porcos

Querem um fino exemplo de hipocrisia? A UEFA anda há anos a apregoar aos sete ventos que a política tem de ficar fora do futebol. Castiga jogadores, clubes, federações, adeptos que usem os jogos para tomar posições políticas, trata o futebol como se fosse um ambiente hermético da sociedade, «just business». E depois qual é o seu maior evento? Uma competição entre equipas nacionais, ou seja, formadas por critérios políticos.

Algumas definições, para percebermos melhor esta profunda ambiguidade:

- «etnia» é um grupo cultural definido e com características próprias e distintivas. (Já que estamos numa onda antropológica, não é o mesmo que raça, que é uma coisa que, no ser humano, nem sequer se possa dizer que existe, e que foi «inventada» pelos evolucionistas que dariam origem ao posterior movimento nazi, por exemplo);

- «nação» é uma etnia com a pretensão à autonomia política (e este é o ponto chave: uma etnia pode não ser uma nação. Os ciganos, por exemplo, são uma etnia que não pretende representar-se politicamente; os curdos, uma etnia que quer um Estado próprio, são uma nação);

- «nacionalismo» é uma ideologia que defende que todas as nações têm o direito a um Estado. Considerando que o estado está sempre em risco, por inúmeros factores, o nacionalismo tornou-se, hoje, mais numa defesa do Estado instituído que propriamente numa busca do Estado, mas o princípio é o mesmo que era na origem.

Estes são os conceitos.

O Estado-nação é uma invenção histórica europeia, a sua principal exportação para o resto do mundo – mais do que a democracia e os supositórios  Bayer – e praticamente todos os países europeus são Estados-nação, ou seja, partiram de um movimento de afirmação étnica e nacional para chegarem a país, a Estado, e alguns mesmo a Império, que não é mais que um Estado a tentar ampliar-se a todo o mundo.

Todas as equipas em competição na Ucrânia e na Polónia representam Estados-nação. Os critérios de selecção dos jogadores para o Europeu são, antes de mais, políticos. A simbologia que envolve os jogos (a bandeira, o hino…) é política.

Claro que, se aparecer um jogador a jogar com uma mensagem política na camisola interior depois de marcar um golo, é irradiado, porque jogador é jogador, e não tem nada a ver com a política, mesmo que esteja no meio da maior manifestação política do ano, que é exactamente o que qualquer Campeonato Europeu de Futebol é. Uma coisa é o circo, outra o palhaço.

Ao grupo que acabou ontem, e em que a Grécia e a República Checa passaram, ficou a faltar uma coisa, que era impossível à partida por causa do sistema de cabeças-de-série: a Alemanha.

Porque, dessa forma, teríamos, no mesmo grupo do primeiro Europeu jogado na antiga esfera de poder da antiga União Soviética:

- os dois países que determinaram o rumo da II Guerra Mundial, na sua origem e no seu fim (sim, quem ganhou a guerra foi a URSS, não os Estados Unidos, lamento desiludir a propaganda), que simbolizaram a divisão política do mundo depois dela (RFA/RDA…) e que representaram a oposição ao «Ocidente vencedor» (a Rússia, herdeira da URSS);

- um país que foi dividido e politicamente aniquilado pelo pacto Ribbentrop-Molotov, assinado pelos governos precisamente da Alemanha e URSS, em 1939, que viu a população que resistiu à expurga e às matanças perder, pura e simplesmente, todos os direitos de nacionalidade, que, depois da Guerra, foi absorvido pelos soviéticos, e de onde partiu, precisamente, a onda revolucionária que viria a destruir o regime soviético – a Polónia.

- e o país que começou toda esta história: a Grécia, o primeiro Estado-nação moderno a ser constituído no século XIX, em 1832, após a guerra nacionalista da independência contra os otomanos. Ou seja, quem começou toda esta história, mostrando o caminho, por exemplo, à Itália (1860 e anos seguintes) e… à Alemanha de Bismarck (1871), que apenas 40 anos depois já declarava guerra ao resto do mundo para defender o seu direito ao império.

Vocês espantam-se de ver polacos a perseguir russos depois dos jogos? Eu não. Não há nenhum polaco que não tenha tido pelo menos um avô perseguido ou morto por russos ou alemães. Experimentem fazer isso em Portugal, com alguns esqueletos escondidos em campos de concentração no Alentejo, para cúmulo, e vejam por quanto tempo duram os rancores.

Com o cenário histórico, a crise europeia e o desenfreamento das paixões que o futebol consegue provocar, este Europeu é um barril de pólvora à beira de explodir.

Hoje há eleições na Grécia. Tudo isto tem um sentido colossal por baixo da superfície. Há massas enormes que se movem enquanto estamos distraídos a ver aquilo que pensamos ser apenas um jogo de futebol na televisão.

Imaginem que somos gregos. Estamos rodeados por todos os lados. Querem sufocar-nos. Querem vergar-nos. Nós somos os que não pagam, os que não trabalham, os que não têm honra. Nós, que inventámos a política que eles hoje usam, somos a escumalha da Europa. Somos motivo de gozo e de humilhação. E vamos lá acima, ao centro do mundo, ao país que é o novo menino-bonito da Europa, somos roubados descaradamente no primeiro jogo (e mesmo assim só não ganhamos porque falhamos um penálti – grande Karagounis, caraças!), e passamos à segunda fase, contra tudo e contra todos, eliminando o país anfitrião e a Rússia.

Tudo isto, estamos a ser chantageados para continuar a pagar a crise e, no dia seguinte temos as eleições que vão definir o nosso futuro.

Marquem este dia na vossa agenda de recordações, porque pode ser histórico: alguém se admiraria que, depois de ter inventado a política, e depois de ter iniciado o nacionalismo, a Grécia começasse, nas urnas, também contra tudo e contra todos, o processo de desmantelamento desse Ocidente que ganhou a Guerra Fria e que tomou conta do mundo?

Por quem é que eu estou a sofrer neste Europeu? É fácil de responder, porque não tenho pudor nenhum de misturar política com futebol: pelos PIIGS – uma sigla fina que um inglês rico  inventou para chamar «porcos» aos países que não eram realmente europeus nem civilizados. Portugal (somos os primeiros…), Itália, Irlanda, Grécia e Espanha.

No Europeu estou a torcer pelos africanos, pelos pretos, pela canalha da Europa.

O meu cenário de sonho? Portugal e Grécia na final, os portugueses a ganharem por 1-0, com um golo de cabeça de um tipo qualquer (porque era justo, caraças...) e, no fim, todos os 24 jogadores no centro do campo, a mostrarem a Taça em conjunto, unidos, e a fazerem o mesmo gesto que o Lisboa fez no Porto quando ganhou o campeonato de basquetebol.

E como eu sei que é disto que queriam mesmo que eu falasse quando viram o título do post, aqui vai:

Aconteceu uma coisa maravilhosa este ano nas modalidades do Benfica.

Não foi só ir ganhar o quinto jogo do basquete às Antas (ou à Caixa, seja lá onde for essa merda, mas também gosto, porque ir a um banco e ganhar sabe sempre bem a dobrar) e ver o Lisboa a mostrar como lhes foi ao cú.

Não foi só ouvir o tipo do hóquei (que eu não conhecia mas de quem passei a gostar bastante) a dizer que «ganhámos aos porcos».

Foi muito mais do que isso. Foi ver como, nas modalidades do Benfica, há treinadores, dirigentes e jogadores suficientemente apaixonados para expressarem exactamente, sem tirar nem pôr, sem políticas nem hipocrisias, o que vai na cabeça dos adeptos.

Não pode haver melhor coisa para um clube que ter uma sintonia perfeita entre o sentir dos adeptos e o sentir dos dirigentes. Porque dessa forma percebemos que esta raiva que sentimos pelas humilhações e pelas injustiças de anos e anos está a passar para o lado de lá, e que quem tem o poder está mais próximo de usar esse poder de uma maneira que represente, realmente, o clube – porque o clube são as suas pessoas.

Quando o Pinto da Costa diz que quer continuar a fazer da Luz o seu salão de festas não está a falar pelos seus adeptos? E não está a ser ordinário e provocador? E não está, também, a ser «um grande presidente»?

Não há nada mais triste, como adepto, que sentirmo-nos enrabados pelos outros e, logo a seguir, encornados pelos nossos, como tantas vezes aconteceu em 30 anos. E vocês sabem do que eu estou a falar.

Não gostaram «das atitudes» do Lisboa? Não gostaram «das palavras» do Trindade? Aguentem-se. Aqui, comigo, já sabem que não há hipocrisias. É pão, pão, queijo, queijo. Sim, fomos lá mesmo enrabá-los. E sim, ganhámos aos porcos. Não aos adeptos, que esses são todos iguais de Norte a Sul, mas à corja de mafiosos que tomou conta daquele clube e o tornou numa associação criminosa. Porcos, mesmo. Todas as vitórias contra o Porto são, hoje, acima de tudo, e graças a eles próprios, vitórias contra as pessoas que representam toda uma forma de estar na sociedade que a torna imunda, e acima de todos a Pinto da Costa, o personificador supremo do regime político que nos rege desde o 25 de Abril, o novo ditador da demagogia.

No programa da Sport TV a purificar o Pedroto, o Pinto daa Costa disse uma coisa que temos de reter: «Só gostam de nós enquanto não incomodamos ninguém.» Lição retida, a não esquecer, e a repetir todos os dias pelos dirigentes do Benfica, todos os dias, quando vão à casa-de-banho antes de sair de casa.

Sentiram-se «envergonhados» pelo Lisboa? Não se sentem «representados», como benfiquistas, pelo Trindade? Paciência. E más notícias: as coisas ainda vão piorar muito antes de melhorarem. Vai ser feio, vai ser longo sujo e vai ser sujo. Estamos a nadar pela vida no meio de um pântano, atolados em merda até à boca. E vocês andam preocupados com perfumaria?

11 comentários:

  1. Torci pela Grécia o tempo todo. Agora, seria absolutamente fenomenal que eliminassem os alemães. Teriam os PIGS todos com eles, seguramente. Seria apenas uma satisfação temporária, porque depois do Euro lá virá a crueza do asfixiamento imposto pela Alemanha, mas aposto que seria uma enorme satisfação.

    Tens toda a razão quando te referes à sintonia entre adeptos e dirigentes, no caso o Carlos Lisboa e o dirigente do hóquei, cujas afirmações, infelizmente, não vi. Ganhámos mesmo aos porcos, a essa corja suja e desonesta, que representa o que de pior há neste país, só igualada por essa outra corja que, na casa designada como a sede da democracia, recebem um dirigente digno de protaganizar a versão nacional-desportiva de "O Padrinho".

    Esta classe dirigente, política e desportiva, provoca-me uma verdadeira repulsa. Porcos é uma excelente forma de os descrever. E aqui incluo a nóvel presidente da AR que, se mesmo que quisesse, não podia ter encontrado melhor forma de mostrar que a elite deste regime não presta - são eles, a "elite", a razão da designação PIGS. Fazem just completo ao acrónimo. Para eles e para os outros porcos, aqui vai outro acrónimo - VPAGPQOP.

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  2. Mais um post aonde a minha identificação com o Hugo é total.Este dia será histórico e mais ainda se a Grécia der o safanão que a maior parte de nós,por cobardia,nem sequer queremos pôr em questão.A partir de hoje tudo será diferente e iremos presenciar a derrocada desta Europa feita em favor das elites e nunca em favor ou com o consentimento dos seus povos.Não vai ser agradável mas ao menos pode ser que voltemos a ter coluna vertebral,o que não é coisa de somenos importância.Pluribus Unum.

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  3. "Não pode haver melhor coisa para um clube que ter uma sintonia perfeita entre o sentir dos adeptos e o sentir dos dirigentes. Porque dessa forma percebemos que esta raiva que sentimos pelas humilhações e pelas injustiças de anos e anos está a passar para o lado de lá, e que quem tem o poder está mais próximo de usar esse poder de uma maneira que represente, realmente, o clube – porque o clube são as suas pessoas".

    Exactamente! É esta empatia, esta mística que tem de existir cada vez mais entre adeptos, simpatizantes, dirigentes e atletas. É esta união, contra tudo e contra todos, nas vitórias e nas derrotas (principalmente nestas) que tem de se fazer sentir entre todos. Só assim o Benfica poderá vencer cada vez mais.
    Por isso sou tão crítico contra a crítica, a crítica desmiolada, por défice de inteligência, de reflexão, de conhecimento, de informação, que tão mal faz ao clube. Crítica feita apenas por sentimentos egoístas sem pensar primeiro nos interesses superiores do clube.

    Vamos fazer jus ao lema do Benfica, "Um por todos, todos por um". E a mística Benfiquista será de novo uma realidade.

    PS. Sinto-me orgulhosamente representado tanto pelo Carlos Lisboa como pelo José Trindade. Que apareçam mais desses. Não tenhamos medo de chamar os bois pelos nomes.

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  4. Caro Hugo, fantástico. É que é isso mesmo.

    Duas achegas:

    1 - meias finais 100% PIGS: Portugal, Itália, Espanha e Grécia. Um sonho só superado pela final que pediste.

    2 - para o prato ser completo o Sr. Trindade, não o Benfica, o Sr. Trindade deveria vir pedir desculpa pelo "ato falhado". Os Tigres são um clube muito estimável e terá sido, concerteza sem qualquer intenção que se trocou o nome do animal. Uma questão zoológica, portanto...

    Cumprimentos

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  5. Estou feliz. Sofro pela Selecção. Gritei que nem um anormal com os golos – os de Portugal e os da Alemanha (só ontem, prometo). Quando soube que os alemães iam jogar com os gregos e que os gregos voltaram a votar contra o euro, percebi que tinha sido um dia perfeito.

    Gosto do Ronaldo. É um miúdo grande, vaidosão, que sabe que é bom e que leva a vida na boa. Se não fosse assim era apenas um bom jogador. Metade do talento do Ronaldo vem-lhe da personalidade, e a outra das capacidades físicas. O Ronaldo nunca vai ser campeão pela selecção, em parte por causa da selecção, noutra parte porque não precisa o suficiente (não QUER o suficiente triunfar) de ganhar na selecção. Mas sabem de uma coisa? O Messi também não.

    Também gosto do Paulo Bento. Não sei se ele sabe muito ou pouco de futebol, não gosto de o ouvir falar de árbitros e de facas afiadas, mas gosto do carácter dele. O Paulo Bento tem o feitio certo para treinar a selecção, porque aí é muito mais imporante o que se consegue fazer em relação à coesão da equipa do que à técnico-táctica, e a coesão da equipa, fazer com que ela renda mais do que a soma dos seus elementos, é o ponto forte do Paulo Bento. É um treinador que, por ter jogado no Benfica e na Selecção, por exemplo, percebe que o futebol deste nível é, em 80 por cento, pressão, e que a única forma de conseguir render o mínimo é sendo coeso, como equipa, e, como ele disse (atenção a esta frase, porque define a ética perfeita que deve reger uma equipa de futebol), cada jogador ver que o homem que está ao seu lado está a dar tudo para o ajudar. É precisamente aqui que se define uma equipa, e quem já jogou competitivamente seja ao que for, provavelmente já passou por momentos desses – ou por se sentir amparado em campo ou, pelo contrário, por se sentir isolado quando precisava de sentir apoio. O Paulo Bento tem razão. Uma equipa é isso.

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    1. Eu também pá...
      Descobri que, em termos futebolísticos, o meu coração não bate só pelo Benfica.

      Mas Benfica é Benfica, foda-se

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  6. A vergonha do nosso futebol... Lista anedótica!!!


    http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=337344

    Só para dar os exemplos mais flagrantes:

    1.º Pedro Proença - árbitro dos míticos Boavista-Benfica de 2002/2003 (o Pedro Emanuel viu o amarela à 19ª falta e ficaram por marcar dois penalties a favor do SLB) e Penafiel-Benfica de 2004/2005 (dois penalties escandalosos por marcar a favor do glorioso), do Braga-Benfica (duas expulsões perdoadas a jogadores do Braga e um penalty escandaloso sobre o Luisão e marcou um penalti inexistente a favor do Braga) e do Benfica-Porto (golo do Maicon fora de jogo) desta época, do Porto-Benfica de 2008/2009 (mergulho de Lizandro que dá o empate e impede que o Benfica fique em primeiro lugar), etc. --->>> http://www.youtube.com/watch?v=EtT9xrB_pQM


    2.º Olegário Benquerença - árbitro do mítico Guimarães-Benfica (o jogo em que vi a maior roubalheira de sempre no futebol), do golo do Petit que o Baía tirou de dentro da baliza, que apitou o Rio Ave-Benfica (não marcou dois penalties escandalosos a favor do Benfica) desta época, etc.


    3.º Jorge Sousa - o super dragão, árbitro do inolvidável Braga-Benfica de 2009/2010 (vergonha total; Cardozo separa os jogadores, é agredido por 2 jogadores - nada lhes aconteceu, e o Tacuara ainda acaba expulso por pretensamente se envolver em confusões no túnel quando se vê perfeitamente que é dos primeiros a entrar para o balneário) --->>> http://www.youtube.com/watch?v=ePUPKJu8aXE


    4.º João Capela - o árbitro que expulsou o Cardozo duas vezes esta época, sempre em situações completamente fora do normal


    5.º Artur Soares Dias - o árbitro que apitou o Sporting-Benfica desta época ('não viu' o penalty escandaloso sobre o Gaitan no primeiro minuto)


    6.º Hugo Miguel - o árbitro do Académica-Benfica desta época (que conseguiu marcar falta do Aimar num lance em que este é completamente atropelado na área)

    RM

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    1. RIP a todos eles.Vamos usar isto como motivação.As palavras do Grande Porco tambem tem de ser afixadas no balneario e serem retiradas apenas no fim do campeonato(e nos jogos da seleção pois ninguem precisa saber o que se passa na nossa casa).

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  7. Grande post, Hugo. Um dos melhores que eu já li aqui. É singular a forma como tu consegues ver através dos acontecimentos, ver como tudo está interligado.

    Já agora, explica-me como é que a URSS ganhou a II Guerra Mundial? Então a seguir não houve a Guerra Fria e depois a Queda do Bloco Soviético? Havia uma pergunta assim no meu exame...

    Quanto ao hóquei...Finalmente! Hoje há jogo outra vez aqui, em Paço de Arcos. A ver se a gaja me diz que os bilhetes custam 18 euros outra vez...

    Viva o Hugo, VIVA O TRINDADE!!!

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    1. Se os russos não tivessem ganho em Leninegrado e, depois (e sobretudo aí), no Norte da Finlândia (numa cidade, de que agora não me lembro o nome) seguindo para Berlim, bem podiam os americanos ter vindo montados nos seus cavalinhos, armados em cow-boys, que bem ficavam pela Normandia. Provavelmente até a bomba H os alemães conseguiam construir primeiro.

      Queres saber quem ganhou a II Guerra Mundial? Consulta a lista de mortos.

      A NATO e o Movimento Europeu surgem por uma razão fundamental: porque, quando a Guerra acaba, os EUA sabem que perderiam uma guerra convencional contra a Rússia. É só por isso, e por os russos conseguirem fazer a sua primeira bomba nuclear (salvo erro em 1949) que há Guerra Fria.

      Os EUA ganham a Guerra Fria em 89, claro, mas isso já são outros quinhentos. É posterior, e só possível no seguimento da derrota da Alemanha.

      O grande drama de Hitler (salvo seja...) foi ser um cepo em geopolítica. Se tivesse seguido a doutrina de Karl Von Haushofer, fundador da Escola Alemã de Geopolítica, jamais teria confrontado directamente a Rússia e desfeito a aliança com Estaline, que era tão pérfido como ele.
      Von Haushofer defendia o sistema dos «Estados-directores». Alemanha, Rússia e Japão seriam os três Estados-directores das respectivas faixas longitudinais de território, de Norte a Sul (a Alemanha seria a «directora» de Europa e África, por exemplo), e aos Estados Unidos ficaria «reservado» o continente americano.
      Mas o que os europeus «de cá» não percebem é que a guerra da Alemanha não era uma guerra para Ocidente mas para Oriente. A verdadeira frente de guerra para Hitler era a que se estendia pelo Império Austro-Húngaro, do Lebensraum alemão falado por Friedrich Ratzel. E não soube parar. Quis tudo e «morreu» no Inverno russo, em Leninegrado.

      Se te interessam estas coisas, procura «Von Haushofer» no Google. E, já agora, a propósito desta era germânica que (re)vivemos, Ratzel, Kjellen, e, sobre a questão a questão EUA-URSS, Nicholas Spykman. É giro.

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    2. Obrigado pá. O que eu tenho no meu livro é o facto de os americanos já possuírem, logo a seguir à 2ª guerra, a primeira bomba nuclear e este é o argumento por parte dos soviéticos, claro. O argumento dos americanos é a expansao do bloco anti- democrático soviético.

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