quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dez que não fazem um

Há alguns momentos, muito poucos, em que tudo se alinha para a intemporalidade. Para mim, o único desses momentos, de facto, foi o Sporting-Benfica do 3-6.

O estado de espírito, o adversário, a sorte, a confiança, essa insignificância de termos na equipa um dos melhores futebolistas portugueses de todos os tempos (eventualmente o melhor)…

O que me deixa mais ansioso no Portugal-Espanha de hoje é a minha confiança de que, daqui a dez anos, estaremos a contar como vivemos e o que sentimos neste dia épico.

A certeza da vitória deixa-me nervoso. Tanto que prefiro não mexer. Não dizer nada. Fazer de conta que não sei, que não tenho a certeza, que hoje vamos eliminar a Espanha à frente de todo o Mundo.

Como tal, só tenho uma safa: falar do Benfica. E do Porto, claro.



O tal de Caballero, de um momento para o outro, passou de ser uma jovem esperança desconhecida do Paraguai a futura estrela. Bastou assinar pelo Porto. O Caballero até pode vir a ser uma futura estrela, mas se para ter uma futura estrela tenho de contratar 15 miúdos de 17 anos a cheirar a leite para irem jogar no Rio Ave, prefiro não trazer nenhum e reforçar a equipa AGORA com um titular.

Continuo a ir contra a corrente em relação a essa história do «futuro». No futebol não há «futuro». No futebol há o agora, e é o agora que faz o futuro. Não alinho em Caballeros, nem em Iturbes, nem em Melgarejos, nem em Urretas, nem em Moras, e escusado será dizer que muito dificilmente alinho em equipas B, pelo menos dentro do enquadramento em que elas são normalmente utilizadas em Portugal – que é o contrário do que acontece em Espanha, dai se explicando que em Espanha elas dêem Nolitos e cá não dêem em nada.

Qualquer jogador que não seja para dar minutos a sério – e não nos jogos contra o Pinhalnovense – agora é um mau investimento, tanto a curto como a longo prazo, e é mais prejudicial que benéfico.

É evidente que há excepções. Em todas as regras as há. Mas dêem-me um exemplo – um bom exemplo, um exemplo claro – de um jogador estrangeiro contratado com 19 anos ou menos, que tenha sido emprestado, e que tenha vindo a revelar-se, depois, como uma mais-valia clara quer em termos futebolísticos quer em termos financeiros.

Anda-se a comprar Caballeros e Urretas para quê? Para ter Yannicks? Sim, porque o que se espera com estes negócios de grande visão é achar o Maradona que ninguém viu, gastar 40 mil e ganhar 40 milhões, mas o que se tem é Iturbes, uns atrás dos outros, a tirar lascas de madeira do rabinho.

Uma contratação como a de Ola John, David Luiz, Di Maria, James Rodriguez, até poderei ir ao tal Jesé Rodríguez, que nunca vi jogar mas que parece ter escola, justifica-se apenas porque se combina oportunidade de negócio e oportunidade desportiva. São jogadores que têm qualidade para, mesmo com 19/20 anos, senão serem titulares pelo menos jogarem 50 por cento dos minutos da época com qualidade. Se qualquer um destes dois elementos não existir, é pura e simplesmente 99 por cento de hipóteses de perder dinheiro e espaço para alguém mais útil à equipa.

A prospecção dos clubes portugueses funciona bem a descobrir talentos – e parece que a do Benfica já funciona melhor que a do Porto – mas trabalha mal a contratá-los - e aqui o Porto parece funcionar melhor. Ainda depende em demasia da quantidade para encontrar qualidade. Tem de falhar muito para acertar de vez em quando. E nisto, como em tudo, é a eficácia que distingue os melhores.

O segredo tem de estar em conseguir determinar, previamente, qual é o jogador que pode ser o próximo David Luiz para não ter de comprar cinco até achar um que se aproxime.

Por outro lado, o plantel do Benfica, para não ir mais longe, já tem os jovens de que precisa e que pode suportar.

O grande investimento feito em qualquer equipa do nível do Benfica, Porto ou Sporting tem de ser feito nos resultados imediatos, e não nas vendas. O caso do Sporting é exemplar. Por não ter resultados desportivos, nos últimos 20 anos, o Sporting deixou de ganhar dezenas de milhão de euros em transferências – quer porque, não tendo resultados, tem menos receitas fixas, e logo mais urgência em vender; quer porque os jogadores não se valorizam o suficiente; quer porque não se estabelece o vínculo suficiente entre o jogador e o clube que permita ao clube gerir a venda com espaço de manobra.

O caso de João Moutinho é paradigmático. Ao vender Moutinho ao Porto da maneira que vendeu o Sporting perdeu dinheiro, estatuto (indiscutivelmente, colocou-se um patamar abaixo de Porto e Benfica) e prestígio entre os próprios jogadores. E o dinheirito que recebeu foi para continuar a alimentar uma máquina de perder.

Se Moutinho tivesse sido campeão e ido a uns quartos-de-final da Champions, por exemplo, jamais teria sido vendido por três quartos do seu preço de mercado e ao principal adversário na luta pelo título.

Se o Benfica for campeão e voltar a estar nos quartos-de-final da Champions, provavelmente Rodrigo será vendido não por 20 milhões, daqui a um ano, mas por 30 milhões. E jamais Witsel seria vendido por esses 30 milhões (como vai ser, e isto já eu dizia antes de acabar o campeonato, quando ainda nem se falava nisso – só já quatro jogadores com mercado aberto, nesta equipa do Benfica, para as equipas que pagam a sério: Witsel, Gaitán, Javi Garcia e Garay, por esta ordem, o resto é a preço de saldo ou a perder dinheiro) se o Benfica não tivesse eliminado o Zenit de São Petersburgo.

Entre gastar 8 milhões a comprar 10 Melgarejos, ou 10 Caballeros, ou 10 Urretas e gastar 8 milhões a comprar um Witsel, ou um Ola-John (vamos ver, vamos ver…) ou 5 a comprar um Rodrigo ou um Garay, ou até um Jesé Rodriguez, o que é que eu prefiro?

Qual é a dúvida?

8 comentários:

  1. Mas no Benfica gosta-se de coleccionar, o clube colecciona jogadores e há senhores que vão coleccionando comissões. Se calhar mais vale investir mais e melhor no departamento de prospecção e evita-se contratar tantos jogadores, digo eu...

    PS: Há uns meses referiste que o Benfica devia ter um GR mais esperiente no banco ao estilo de Tiago no Sporting, pois aí tens: Paulo Lopes.
    Homem só não adivinhas é o titulo do Benfica!

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  2. O Anderson no Porto. Não esteve emprestado mas pelo menos meio ano na equipa B. E agora vamos ver o Atsu explodir. Não estou a ver mais realmente.

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    1. Será que vamos ver o Atsu explodir mais que o Vieirinha, ou o Ukra, por exemplo?
      A questao é essa, e outra ainda: para haver a possibilidade - a possibilidade... - de um Atsu, quantos Atsus se compraram? Não teria sido melhor comprar um Falcão com esse dinheiro todo?

      O que eu acho é que, entre outras coisas, se ganha muito dinheiro nos túneis da Argentina, do Zaire, do Brasil.

      E isto, obviamente, não tem nada a ver com o Porto. É geral.

      E as equipas B vão ser um fartar vilanagem.

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  3. E pronto, mais uma vitória moral... Aquilo que seria verdadeiramente fora do normal, ganhar à Espanha, não foi feito. Mas pronto, caímos de pé, fomos heróis, etc e tal. VPC.

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  4. Foda-se... Trabalho pré-jogo e estratégia: ótima
    Primeira parte: ótima (a jogar com 10)
    A partir daí muito mal o PB. Tira o Nulo Almeida e mete o Nulidade Oliveira.
    Guarda 2 trunfos para o prolongamento?! Onde fomos dominados
    Varela entra aos 110 e não entra na lista dos penalties, assim como o Oliveira (pelo menos aí podia ser útil)
    Instead, mete o Moutinho a marcar o primeiro (ele conhece os jogadores que tem... Certo???)
    Dois centrais na lista com um extremo e pdl de fora, muito mais frescos fisica e mentalmente
    Nunca pensei dizer isto, mas... Faltou o Postiga...

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    1. Tudo bem, mas o fundamental, na minha opinião, foi apenas o seguinte: aos 65 minutos o meio-capo português estirou fisicamente por andar a jogar 3 contra 5 a atacar e a defender, a pressionar e a jogar. O Veloso morreu. O Meireles faleceu. O Moutinho acabou. A partir daí só teríamos hipóteses reais de ganhar nos penáltis.
      Perdemos a vantagem física que tivemos sobre a Espanha - uma equpa de rastos fisicamente, que vai perder o Europeu por causa da questão física, provavelmente - e ficámos á mercê do jogo inteligente deles.

      Tivemos uma oportunidade legítima contra uma equipa superior e inferiorizada fisicamente. Não ouso dizer que merecemos ganhar. Talvez não merecessemos perder, mas, não havendo empates, acho justo que os espanhóis, pelo valor que têm e pelo trabalho que fazem pela sua Selecção, sigam em frente.

      Nos penáltis, só não percebi como entrou Varela e não Hugo Viana, um especialista. A questão de Ronaldo não ser o primeiro a marcar também não percebi, mas lá está, nada nos diz que não seria o primeiro a falhar.

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  5. Concordo em absoluto. Para além de não sermos bons a contratar, os adeptos benfiquistas, quando veEm um putO de 20 anos já esperam o Messi e o caraças... Se no primeiro ano não fazem o que o Rodrigo fez, é lixo.

    Bolas, o que é isso?

    Wass, Danilo, yebda, felipe bastos,carole, kardec (por exemplo) são jogadores que nunca consegui perceber o seu (total) potencial porque não tiveram OPORTUNIDADES!

    Ps:SALVIO VOLTA!!! (este é novo e bom porra...)

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