sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A derrota do trabalho


Não sou, como todos bem sabem, propriamente um jesuíta, mas há algo de profundamente imoral quando um arrivista como o TOC – que antes de receber de bandeja o cargo mais fácil do futebol mundial (e de o fazer parecer, não o esqueçamos, um bicho de sete cabeças), não tinha feito nada de nada – se arroga, de sobrancelha franzida e nariz empinado, a dar lições de trabalho a um tipo como o Jorge Jesus, que, no futebol português, já passou por tudo e mais alguma coisa, que subiu a pulso (com ou sem vitaminas) e que, até ver, é dez vezes mais treinador do que ele.

«A sorte dá trabalho», diz o TOC, antes e depois de, num jogo perfeitamente equilibrado, marcar um golo no último minuto, com dois ressaltos num remate falhado a fazerem a bola passar por cima do guarda-redes.

Tenho uma aversão extrema aos tipos que acham que só eles é que trabalham, e que ninguém trabalha mais do que eles. Não vejo neles grande diferença para os troikistas do Norte (neste caso da Europa) que, privilegiados pelo sistema em que vivem – e cuja construção não é mérito deles mas dos que os antecederam – acham que podem decidir que os outros não trabalham, ou porque não querem ou porque não sabem, e que por isso não merecem nada.

É suposto o Jorge Jesus, que anda nisto há 30 anos, ou o Peseiro, que já fez cinquenta vezes mais piscinas que o Vítor Pereira, serem desrespeitados por um idiotazinho encartado que teve a sorte (a sorte!) de arranjar um bom emprego?

Porque o que o TOC disse, mesmo, foi isto: «Ah, ele diz que temos sorte em Braga? O que ele está a dizer é que quando lá vamos somos favorecidos.» Vai daí, ataca, pelo único ponto em que pode pegar: o dos resultados.

Se o Vítor Pereira ganhou com um golo às três tabelas aos 89 minutos, o José Peseiro, que pôs uma equipa inferior a jogar de igual para igual e, muitas vezes, melhor que o Porto, perdeu porque trabalhou menos ou pior?

Gostava de ter visto o inginhêiro Salbador a defender o seu treinador como teria defendido, certamente, se tivesse sido o Jesus a gabar-se de ser melhor que o Peseiro (como aconteceu com o Domingos), da mesma forma que gostaria de ter visto a reacção do inginhêiro Salbador se, em vez do Alex Sandro, tivesse sido o Melgarejo a fazer aquele penálti nítido e o Braga perdesse no último minuto, como gostaria de saber se também passaram fotografias do penálti do Fernando sobre o Hugo Viana por baixo da porta do Benquerença no final do jogo de hoje.

Ficamos, também, sem saber se, nos últimos cinco dias, o Porto deixou de trabalhar bem ou se, simplesmente, teve o azar de, em vez de marcar um golo às três tabelas no último minuto, sofrer um auto-golo inaceitável até para um iniciado a dez minutos do fim.

O Pereira anda inchado, e eu gosto disso. Gosto de o ver a cagar de alto para o Jesus, a dizer que se ri quando olha para o que ele ganha, a dizer que quem não ensina a sua equipa a controlar um jogo é incompetente, da mesma maneira que gosto de ver o Peseiro a dizer que este é o melhor Porto desde o Mourinho. Gosto de ver isso tudo porque tudo isso é manifestamente exagerado e arrogante. Gosto de ver que se toma esta equipa do Porto, e este treinador, como algo muito melhor do que aquilo que são.

Também gosto bastante de ver toda a gente, a começar pelo próprio treinador, a dizer que o Porto está mais forte sem o Hulk, porque agora «é mais equipa e depende menos das individualidades». Gosto bastante porque me lembro perfeitamente de ouvir o Pinto da Costa dizer na sequência da vitória do Benfica no campeonato de 2010, que «só um atrasado mental (sic) é que acha que qualquer equipa do Mundo fica mais forte sem um jogador como o Hulk.»

É toda uma mistificação do tão tentado «campeonato dos túneis» que cai por terra – o tal campeonato em que o tal Porto prejudicado perdeu tantos pontos a jogar com o Hulk como sem o Hulk, e em que já estava a 8 pontos do Benfica antes do Hulk começar aos pontapés aos gorilas. Afinal, do que o Porto precisava para ser uma equipa sério era de vender o terceiro melhor jogador do mundo, que foi jogar para o Zenit de São Petersburgo.

Em relação ao jogo de hoje, fico com algumas ideias:

- que o Braga, a jogar contra os suplentes do Porto, e numa competição que pode ganhar, não conseguiu jogar tão motivado como se esperaria. Vai ser preciso o Benfica ir lá, em Fevereiro, para podermos voltar a ver o Braga a encontrar a sua razão de existir, o Mossoró a comer a relva, o Alan a ter outra vez 20 anos, o Hugo Viana a reaprender a marcar livres. É tudo uma questão de motivação;

- que o Pinto da Costa não vai dizer «desta já nos livrámos», porque, se dissesse, algué poderia pensar que foram lá jogar com os suplentes por favor;

- e que, no fim deste miniciclo fratricida (que, estupidamente, os cérebros da Santa Aliança ainda não encontraram maneira de evitar), aconteceu, por pura coincidência, aquilo que já tinha acontecido nos últimos dez jogos entre Braga e Porto: cada um teve o resultado que precisava, sem prejudicar em demasia o outro. O Porto ganha na prova que quer ganhar e é eliminado (ia a dizer retribui com uma derrota, mas não quero ser mal interpretado…) na prova em que dificilmente teria disponibilidade para ganhar; o Braga perde na prova em que já tem o lugar praticamente definido (o terceiro, entenda-se) e ganha na prova que, realmente, quer ganhar.

Foi uma questão de sorte, certamente, porque em Braga se defrontaram as duas únicas equipas e os dois únicos clubes que trabalham em Portugal.

Pode ser que tenham azar…

domingo, 11 de novembro de 2012

Um problema de cada vez


Tenho de confessar que já não via o Benfica jogar com atenção há uns tempos. Foi hoje. Porque não gosto de fazer figura de velho dos Marretas e dizer mal só por dizer. Fiquei genuinamente atento a ver o que estava diferente, o que estava igual, e o que pensar dos novos jogadores.

Em relação ao resultado, nenhuma dúvida: depois de um jogo da Champions, e antes de um Braga-Porto, é  o tipo de resultado que, no final da época, faz a diferença entre uma equipa campeã e as outras. É muito possível que, daqui a uma jornada, o Benfica seja líder isolado.
Tal como na época anterior, o Benfica está a fazer um melhor campeonato, em termos de resultados, do que o Porto. Empatou um jogo em casa com o Braga e um fora, com a Académica. Dois resultados completamente aceitáveis num percurso à campeão - tal como o seria se empatasse em Vila do Conde.
Este é, tradicionalmente, o momento mais forte da época para o Jesus (entre a 3.ª/4ª e a 10ª/11ª jornadas). Tal como no ano passado, o jogo com o Sporting vai ser fundamental, e o do Porto, em casa, decisivo, mesmo sendo à 14.ª jornada.
 
Esta é a conjuntura.

Quanto à «estrutura», acho que a forma do Jesus pensar o futebol é relativamente simples de entender. É um treinador de esquemas. Divide o jogo em bocados e tenta encontrar um esquema. Tem os lançamentos laterais, os cantos ofensivos, os cantos defensivos, o ataque do lado esquerdo, o ataque do lado direito, a defesa por aqui, a defesa por ali, tem a defesa, o meio-campo e o ataque, e depois vai montando o jogo, retalho a retalho. Foi o que o futebol português lhe ensinou.

Porque é que o Cardozo, para o Jesus, não tem preço? Porque há um bocado do jogo (para aí cinco ou seis vezes em noventa minutos) em que a bola vai dar à grande área, e um tipo que consiga meter o pé e, de primeira, enfiá-la na baliza nem que seja um terço das vezes, resolve esse bocado. Não serve para nada noutros bocados? Arranja-se um esquema.

O Jesus nunca vai perder um campeonato por não ter jogadores pesados, porque aprendeu, ao longo dos anos, em todas as divisões, que o futebol português tem campeonatos que se decidem no Inverno e em maus relvados.

O Jesus nunca vai perder um campeonato nos pontapés de canto ou por ter centrais baixos, porque sabe que noventa e cinco por cento das jogadas de ataque de todos os jogos do campeonato acabam num cruzamento para a área.

Nunca vai perder um campeonato por jogar sem um trinco que varra a intermediária, porque sabe, por experiência, que, num campeonato de pontapé para a frente e pouca capacidade técnica, praticamente todas as jogadas de perigo das equipas pequenas, em casa, resultam das segundas bolas.

É assim, ao fragmentar o jogo e tentando resolver cada fragmento um a um, tentando retirar aos jogadores o máximo de importância em cada acção (porque sabe que o jogador é um animal pouco fiável, basicamente calão e geralmente com pouca vontade de triunfar, ao contrário dele), que o Jesus vai ganhando campeonatos, apuramentos para a Europa, subidas de divisão.

Foi assim que chegou à Luz e, sendo campeão na primeira época, se convenceu, para todo o sempre, que essa maneira de trabalhar chegava. Encarou essa vitória como a prova concludente de que era o melhor condutor do mundo.

É esse o limite do Jesus, e é esse o limite da equipa do Benfica, que nunca vai deixar de ser campeão por não ter centrais altos, trincos, matadores e jogadores especialistas em alguns momentos do jogo, mas que nunca conseguirá ser uma equipa capaz de ligar as diferentes fases do jogo. Porque não jogadores nem treinadores com espírito colectivo suficiente para isso.

Pode vir a ser campeã, mas apenas se o Porto se deixar convencer de que não há hipótese de não cilindrar qualquer equipa do campeonato em dez minutos. Se isso acontecer, há uma hipótese de que, num dos jogos entre-Champions, esses «dez minutos à campeão» não resultem e que o Benfica, se se mantiver por perto, aproveite, no momento certo, para os enganar. Fora desse cenário, é irrealismo. O Porto é uma equipa que se situa num patamar competitivo entre o lugar 12 e 16 da hierarquia europeia, o Benfica estará sensivelmente entre as posições 25 e 30. Em cada dez jogos disputados em terreno neutro, em condições de igualdade de motivação e necessidade de ganhar, o Benfica ganha dois, empata dois e perde seis. E, da maneira como o campeonato está desequilibrado a favor destas duas equipas, para o Benfica ser campeão empatar não chega.

 

Em relação aos jogadores, confirmo o que pensei na altura da contratação do Ola John. Tem escola, faz-me lembrar o Ruud Gullit, mas muito menos potente, e é, claramente, um extremo-pivot, parecido com o Gaitán, que faz jogar, menos veloz, menos técnico, mas claramente mais inteligente e muito mais colectivo.

O Matic é um excelente jogador, claramente diferente do Javi Garcia, muito menos especialista na primeira fase defensiva mas muito mais completo, e eu diria mesmo que mais próprio de uma grande equipa europeia do que o Javi Garcia em termos de características, por ter visão de jogo, capacidade técnica e comprimento e largura de jogo. Não é um jogador unidimensional, como Javi. Mas também não tem o seu carácter – e o que as grandes equipas compram é carácter. Talvez se revele, com a rodagem.

O Melgarejo esta melhor, obrigado, mas quando apanhar com o James vai ficar despido da cintura para baixo.
 
O Enzo Pérez, técnica e tacticamente, é bom jogador. Tem fibra. Vamos ver o que vale para a equipa a longo prazo. Penso que, pelo menos, não será difícil vendê-lo acima do preço de custo.

O Lima tem tantos golos nos pés como o Cardozo, e mais jogo. Ao vê-lo jogar, cada vez mais me convenço que tinha razão ao pensar que, nesta equipa do Benfica, qualquer avançado com o mínimo de espírito assassino marca 40 golos por ano, sem ter de ser uma nulidade em todas as outras fases do jogo, como é o Cardozo. O Cardozo está numa fase boa, está maduro, deixou de perder muito tempo a tentar fazer o que não sabe e, por isso, está muito mais confiante em si próprio e parece melhor jogador. É o normal num jogador que chega aos 30 anos. Tem mais 30/40 golos até acabar a sua carreira no Benfica. Há um, dois anos, teria sido bem vendido, indo buscar um Lima qualquer. Actualmente, já não faz muito sentido pensar nele como jogador para vender, mas antes como um investimento consumado, para jogar mais dois ou três anos, fazer de conta que se dá muito valor aos jogadores-património e ir aproveitando os seus bons momentos, que, contra os Setúbais deste campeonato, valem alguns pontos.

Quanto aos outros, uma palavra só para o Rodrigo e para o Sálvio. O Freitas Lobo perguntava na televisão, há uns dias, o que se passava com a evolução do Rodrigo. Passa-se exactamente aquilo que eu previ, há um ano, que se passaria: a falta de cultura colectiva do treinador e da equipa leva a que o Rodrigo, como o Sálvio, como o Gaitán, antes dele, como o Nolito, como o Bruno César, como outros, confundam «jogar bem» com «jogar sozinho».
Por isso, sendo um jogador muito melhor que os outros, insiste no individualismo, agarra-se à bola e tenta resolver os jogos isoladamente, levando a que tente fazer o que sabe e o que não sabe e a tomar constantes opções erradas. Como é muito forte, vai aparecendo para marcar os seus golos. A imprensa alimenta os egos para vender capas, toda a gente gosta muito, convence-se de que assim é que é, e uma deficiência pontual e perfeitamente corrigível no processo de crescimento de um jogador excepcional transforma-se num defeito.
Ainda hoje, ao assistirmos a um jogo do Chelsea, podemos ver, perfeitamente, a quantidade de erros fundamentais que David Luiz, um dos melhores centrais do Mundo em potência, comete ao longo do jogo, colocando-o à mercê do azar. Porquê? Porque o menino era tão lindo que não havia nada a ensinar-lhe. A não ser as «tácticas», claro…
 
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A teoria do resgate


Olho para esta equipa do Sporting e penso em várias coisas.

1 – Lembro-me das piores épocas do Benfica, em que acabávamos em quarto, quinto, sexto, em que levávamos sete do Celta. Mesmo assim, no Benfica foi pior. Mas vejo um clube desmontado, à beira do resgate.

2 – Tenho vontade de ser presidente do Benfica, ligar ao Fodinho Lopes, e dizer-lhe. «estou disposto a ficar-te com o Elias até ao final da época, pagando-lhe o salário, com opção de compra por 5 milhões a qualquer momento do empréstimo. E ofereço-te mais dois milhões por 70 por cento do André Martins.»

3 – «Mete a tua televisão a funcionar, e não faças mais contratos com o Oliveira. Quando o teu acabar juntamos os nossos dois pacotes em casa, vendemo-los em conjunto ou exploramo-los em conjunto e tiramos o tapete àqueles cabrões. Mas não te vais sentar ao lado do papa, senão esquece.»

4 – Quanto é que vale o Rojo em relação ao Jardel? Ou ao Melgarejo?

5 – Quanto é que vale o Labyad em relação ao Nolito?

6 – Quem é que o Sporting vai conseguir vender acima de 60 por cento do seu valor real? Se não conseguir vender mais ninguém, o Sporting pode recusar uma oferta de 7 milhões por Rui Patrício? Ou de 6 pelo Volkswagen? Ou de 4 por Insúa? Ou por Capel (só porque é espanhol)? Ou de 3 por Adrien?

7 – E para o ano, se não for, outra vez, à Liga dos Campeões?

8 – O Sporting vai, forçosamente, melhorar, pela qualidade dos jogadores que tem, porque mudou de treinador e porque a segunda metade do campeonato é muito mais fácil. Não dou como líquido que o Sporting não consiga recuperar os 10 pontos que tem para o Braga, sobretudo se for ajudado pelas arbitragens e se o Braga continuar a competir na Europa para lá de Fevereiro.

9 – A mudança de treinador não teria sido impeditiva de o Sporting fazer uma boa época. Pelo contrário. Se tivesse ocorrido mais cedo, possivelmente o Sporting estaria ainda perfeitamente dentro da corrida pelo título. A bravata do Sá Pinto («Não sou homem para desistir») foi o pior serviço que fez ao Sporting. Deveria ter tido a lucidez para sair pelo seu próprio pé. Tudo o que estava certo, no Sporting, continuaria bem, e o que estava mal teria sido mudado.

10 – Só esta valente merda deste clube é que seria capaz de me fazer falhar tão calorosamente uma previsão de campeão por duas vezes – a época em que o Jesus chegou ao Benfica, e em que o Sporting ficou a cerca de 500 pontos do primeiro lugar, e agora esta.

No entanto, quero aproveitar a minha série de sucesso e os meus augúrios para deixar aqui mais uma previsão, esperando que os resultados sejam os correspondentes: o campeão nacional vai ser o Porto, à vontadinha…

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Há unicórnios à chuva


Quem é familiar da minha lógica sabe que não estou a ser irónico quando digo que o resultado ideal para o Benfica, hoje, teria sido uma derrota com o Spartak de Moscovo. E até sabem logo porque é que digo isto.

Em termos de resultados a época estava a correr muito bem para o Benfica.

No campeonato ainda não tem nenhum ponto de atraso para o Porto. Uma das condições para ser campeão é chegar ao jogo com o Porto, em casa, pelo menos em igualdade pontual. Teve dois resultados que considero (ao contrário das exibições, como é evidente) muito bons: os 3-0 em Barcelos e na Luz, ao Vitória, condicionados pelas eliminatórias das Champions e quando o Porto teve jogos fáceis, para somar. O próximo, com o Rio Ave, é realmente importante, pois provavelmente daria a liderança do campeonato em caso de vitória. Teve dois resultados relativamente maus, mas aceitáveis num cenário de vitória no campeonato.

Na Europa, sim, as coisas estavam a correr verdadeiramente bem.

Primeiro, desde logo, porque, como disse o Jesus, calhou no grupo do Barcelona, o que inviabilizou imediatamente a possibilidade de primeiro lugar, que lhe daria a possibilidade forte de voltar a acontecer o que aconteceu no ano passado, em que teve de jogar duas eliminatórias da Champions na segunda metade da época.

A única coisa pior do que isso seria aquilo que provavelmente vai acontecer, que é acabar em terceiro, que só dá trabalho – a menos que aconteça como aconteceu ao Porto, apanhando um Manchester City para arrumar o assunto logo em Janeiro. Caso contrário, o Benfica arrisca-se a apanhar com os devaneios europeus do JJ e do Orelhas e de passar três meses a jogar às quartas-feiras para depois cair nas meias-finais da Taça do Courato – ou Liga Europa, como também é chamada pela UEFA e pelo jornal O Jogo.

Não. Importaria acabar em segundo para jogar com o Real Madrid ou, se possível, ficar mesmo em quarto.

Qualquer benfiquista que partilhe das ilusões do animal híbrido Jesurelhas – de que é possível competir em mais do que uma competição a sério com este plantel, sem inevitavelmente as perder todas – precisa de ir à rua tirar o unicórnio da chuva.

Pela mesma lógica, muito bom é o primeiro lugar do Porto. Espero que sim. Espero que fiquem em primeiro, e que joguem com o Spartak de Moscovo ou com o Shaktar Donetsk nos oitavos-de-final, que passem outra vez e que possam encontrar, depois, um Dortmund qualquer.

O presumível apuramento do Braga para a Liga Europa é um bónus.

A eliminação do Sporting um brinde.

Se ficar fora da Europa em Janeiro, e se ganhar ao Porto em casa – obrigatório – o Benfica, mesmo sem jogar nada, pode ser campeão, por uma mera razão de recursos humanos. Nem o Jesus conseguiria lixar isto. Bom, quer dizer…

A questão do pessoal é a outra parte que está a correr muito bem ao Benfica. A sorte está a fazer o trabalho do Jesus pelo Jesus. Também aqui, o homem não está a ter hipótese para lixar isto. Perdeu o Javi e o Witsel na véspera do fecho do mercado, o Luisão perdeu 10 jogos por castigo, semana sim, semana não perde o Aimar, o Martins, o Matic, o Gaitán, o Sálvio, o Melgarejo…

O resultado disto é que a gestão do plantel está a ser a ideal. Basta tirar ao Jesus a gestão dos jogadores para as coisas começarem a correr bem. Os supostos problemas com o plantel vão resultar, simplesmente, nisto: em Janeiro, à entrada para a parte decisiva da época (quando a perdeu há um ano), o Benfica vai ter as soluções de que, na última época, o Jesus prescindiu (Amorim, Martins, Nélson Oliveira, Saviola) e que este ano foi forçado a inventar (Luisinho, Jardel, André Gomes, André Almeida, Ola John, Enzo Pérez no meio, mais Luisão fresco, mais Gaitán fresco, mais Nolito fresco, mais o reforço no meio-campo que vai chegar em Janeiro). É, potencialmente, a melhor situação em que o Benfica chega a Janeiro desde que o Jesus tomou conta da equipa, e, por si só, será mais do que suficiente para garantir pelo menos o segundo lugar do campeonato.

 

Em relação à Champions propriamente dita, surpreende-me que o Celtic tenha ganho, mas não que o Barcelona não tenha ganho. Achei peregrina, desde o início, a lógica do Jesus de que o Barcelona não entrava nas contas, só porque ganhou na Luz por 2-0. Em vinte anos de Champions só deve ter havido duas ou três equipas a ganhar os jogos todos, e não tem a ver com a qualidade das equipas. Tem a ver com a motivação, com a gestão do plantel, com a necessidade de fazer o resultado, com o simples azar. A derrota do Barcelona hoje, por exemplo, foi-lhe perfeitamente indiferente. De qualquer maneira, com mais uma vitória (frente ao Benfica, por exemplo), faz 12 pontos e é primeiro. Para o Celtic, pelo contrário, era um dos jogos do ano. O Celtic é o caso típico daquela equipa medíocre que aparece todos os anos, a quem as coisas correm bem, e que são apuradas apesar de serem uma das equipas mais fracas da competição (como o APOEL no ano passado). Aquele jogo em Moscovo seria suficiente para perceber isso, e o jogo de ontem confirmou-o.

Sempre tomei como líquido que o Barcelona empataria, pelo menos, um jogo fora. Não percebo como é que um homem tão atento a todas as estatísticas não percebeu isso. Ou, se calhar, até percebo, mas pronto, ele também não é parvo e já sabe o que os tolos papam… E como sabe o que os tolos comem vai dizer que perdeu o apuramento porque o Celtic fez o resultado o Barça. Tretas. O Benfica perdeu o apuramento em Moscovo. Empatando, seria segundo no grupo

 

Neste momento, o que eu, como maquiavélico que sou, desejaria que o Benfica perdesse os próximos dois jogos ou que, fazendo um ponto, o Spartak fizesse três. O terceiro lugar é o pior lugar do grupo.

Há apenas uma hipótese, ténue, de apuramento, que implica ganhar por vários golos ao Celtic (o que é o mais fácil, apesar de tudo, porque o Celtic não joga mesmo nada, desde que a sorte os abandone), e depois esperar que os russos marquem primeiro, na última jornada, na Escócia, uma vez que o problema dos russos é psicológico. Quando marcam primeiro, é quase impossível ganhar-lhes. Quando sofrem um golo antes de marcar vão-se imediatamente abaixo.

É possível que o Spartak ganhe na Escócia, assim como é possível ao Benfica ir empatar a Camp Nou se o Barcelona estiver apurado.

Sim, é possível o Benfica não acabar em terceiro lugar do grupo. As possibilidades são de aproximadamente… 2 por cento.