Um dos principais méritos do Jesus no seu trabalho do
Benfica, para não dizer mesmo o principal, foi ter trazido para o clube uma
dimensão de realismo e pragmatismo que, por força dos sucessivos falhanços
desportivos, este perdera. Quando se falha muito a tendência é para se duvidar
de tudo o que se faz, o bom e o mau, e nesse processo perde-se não só a
estrutura como a noção da realidade. É assim que aparecem, de repente,
jogadores de terceira categoria a jogar com uma camisola de primeira e se fica
a pensar que, por causa disso, o jogador também é de primeira. Centenas de
jogadores de terceira categoria passaram pelo Benfica nos últimos anos.
O sinal mais evidente desse pragmatismo do Jesus – um tipo
que tem a virtude de pensar pela própria cabeça, e, por vezes, o defeito de
achar que só a cabeça dele é que pensa – é a dificuldade de entrar na equipa do
Benfica.
Entre aqueles em quem ele apostou (por achar que lhe serviam
o «sistema táctico») e falharam – o Bruno César, ou o defesa-esquerdo do ano
passado de quem já nem lembro o nome, por exemplo – e aqueles que as pessoas
lhe quiseram impingir por acharem que uma equipa de futebol do Benfica é um
jogo de computador ou uma vitrina, já houve, nestes três anos, inúmeras
ocasiões para esta equipa do Benfica se estampar ao comprido.
Se os editores dos jornais e a geração-Football Manager
tivessem levado a sua avante, se o Jesus não soubesse mais de futebol do que
eles todos juntos – notem que as minhas críticas em relação ao Jesus não têm e
nunca terão nada a ver com o seu conhecimento acumulado e com a sua experiência
como profissional de futebol, assim como não me provoca nenhuma comichão se ele
sabe falar dinamarquês ou não, se enfia o dedo não sei onde ou se é bem ou mal
educado seja com quem for – hoje, o Quim continuaria a ser guarda-redes do
Benfica (porque é português, porque foi campeão, porque tem o cabelo aos
caracóis…), o Roderick e o Nélson Oliveira seriam titulares (porque vieram dos
juniores, porque são portugueses, jovens, porque o Benfica, vá-se lá saber
porquê, tem de ser, para algumas pessoa, uma espécie de viveiro da Selecção,
porque é politicamente correcto), o Carlos Martins também, o Miguel Rosa já
estava no lugar do Gaitán, já havia um trinco qualquer a jogar à frente da
defesa, em vez de um sérvio que custou 5 milhões de euros e de que ninguém ouvira
falar, o Rodrigo já era titularíssimo, e por aí fora.
Ainda no final da época passada andava tudo a querer que o Benfica
fosse buscar miúdos para meter logo a jogar, a defesa-esquerdo, a médio, a avançado,
em todo o lado.
Eu reafirmo: a vitalidade desportiva e económica de um clube
da dimensão do Benfica não pode depender de voluntarismos bacocos e de
projecções de optimismo irrealista. O exemplo do Ola John é excelente. O Ola
John tem, hoje, no Benfica, exactamente o lugar que devia ter, e que eu esperei
que tivesse: é um mais, sem ser decisivo; acrescenta valor sem ter a influência
que um miúdo de 19 anos não pode ter numa equipa que joga para ser campeã; e
está a preparar-se para ser um jogador decisivo quando tiver 2/3 anos de experiência
numa equipa deste nível. Numa equipa competitiva, um jogador como o Ola John
não pode ser mais do que isto. Se for, é sinal de que a equipa tem estrutura de
campeã. O mesmo se passa com o Rodrigo, o André Gomes, o André Almeida
O que é uma estrutura de campeã?
Uma estrutura de campeã é uma equipa chegar ao momento
decisivo de um campeonato e, independentemente de o ganhar, ou
independentemente da categoria individual destes jogadores, ter uma espinha
dorsal composta por cinco jogadores que se encontram no topo de maturidade
competitiva da sua carreira (Artur, Luisão, Garay, Lima e Cardozo) e mais dois
que se encontram muito perto de aí chegar (Matic e Enzo Pérez).
Aí, no rau de maturidade, encontra-se uma das grandes
diferenças desta equipa do Benfica em relação às anteriores, e que lhe permite
ter subido um nível qualitativo apesar de continuar a ter um tipo de jogo
altamente falível e pouco fiável e de, fisicamente, continuar a ser uma
incerteza permanente.
Se a bitola elevada do Jesus tivesse sido influenciada pelo
politicamente correcto de apostar num jogador porque é português, ou porque vende
camisolas, ou porque dá entrevistas, ou porque está na moda, ou porque o
pessoal que compra jornais está farto de ver as mesmas cara, esta espinha
dorsal do Benfica não existiria. Provavelmente, destes, só jogariam o Luisão e
o Cardozo, e é porque já fazem parte da mobília. Se os jornais e as redes
sociais fizessem plantéis o Benfica hoje teria a jogar o Quim, o Roderick, o
Sydney, o Nélson Oliveira (que nem no Corunha joga!) e uma série de outros
cavalinhos de cortesia. E muito provavelmente estaria a disputar um lugar de
acesso à Liga dos Campeões com o Braga e o Paços de Ferreira.
Ou alguém tem dúvidas de que se o Cardozo estivesse no Porto
a marcar penáltis e o Jackson no Benfica o Porto já podia encomendar as faixas?
Alguém é melhor a marcar penáltis, em qualquer lugar do mundo, neste momento,
que o Cardozo? E isso não tem a ver com maturidade? Comparem como ele os
marcava há dois anos e como os marca agora. Pois…
Acho que é uma boa lição a retirar. Eu, que também já vivi
essas ilusões de fazer equipas no papel, já a retirei há uns anos, e esta é uma
boa altura para os benfiquistas (e não só, note-se) perceberem que uma equipa
campeã se faz, sobretudo, com qualidade e com experiência, e não com boas intenções
e jogadores que são «projectos a longo prazo».
O «projecto» do Sporting, por exemplo, não vai dar em nada, porque a equipa vai perder. Daqui a três ou quatro anos vão chegar à conclusão a que o Duque e o Freitas já tinham chegado e voltar a fazer o que eles fizeram, porque perceberão que, de outra forma, não têm hipótese e transformam-se num Braga, que só joga para mostrar jogadores. Não é assim que funciona um clube grande. O «projecto» do Sporting não estava errado, nem falhou por ser errado. Falhou porque foi mal gerido. O que o Sporting tentou fazer é a única via, e foi o que o Benfica fez. Por isso é que tem uma dívida de 500 milhões de euros. Mas é a única via para um clube grande.
O Pinto da Costa, há dois anos, não andou a comprar ex-juniores para voltar a ganhar. Apostou financeiramente e apostou forte (comprou o Moutinho, manteve o Hulk a ganhar uma fortuna e outros jogadores que estavam an altura de sair, etc). Senão tinha perdido. E, se perder este ano (ou para o ano, em boa verdade), a sua única alternativa é voltar a endividar-se, porque com criancinhas não vai lá – e esse é que é o verdadeiro problema do Porto: a sua dificuldade em gerar receitas para além da Champions/transferências que lhe permitam controlar o endividamento, como o Benfica consegue controlar, apesar de ser muito superior, e como o Sporting não consegue.
Por isso digo, por exemplo, do Djuricic o mesmo que disse do
Ola John há um ano: é muito bem vindo, vai ser um a mais, se correr tudo bem
vai ser uma mais-valia desportiva e económica, vale a pena apostar – mas importante,
importante é encontrar um defesa-central com experiência e categoria que possa
entrar e pegar de estaca a substituir o Garay, um gajo internacional ou perto
disso, com 24/25 anos; e um médio da mesma cepa, para jogar ao lado do Enzo
Pérez ou para substituir o Matic (que vai sair, porque é o único jogador de
topo europeu que o Benfica tem e vale muita massa). É com esses que se ganha
campeonatos. Não é com meninos.
E se me começam a falar em dinheiro, como é costume, a
resposta é fácil: ganhar um campeonato ou ir mais longe na Champions, por
exemplo, vale muito mais dinheiro do que vender um jogador. Façam as contas a
tudo o que isso gera, em bilheteira, marketing, valorização de jogadores,
quotização, entrada de sócios, etc, etc, e digam-me lá se, mesmo abatendo os 5
milhões que custou, o Lima, em dois anos, não vai dar muito mais dinheiro a
ganhar ao Benfica do que o Nélson Oliveira (como já se percebeu) alguma vez
dará?
Não é tanto o barato que sai caro. O fácil é que sai caro.
Ora aki esta um post com cabeça tronco e membros,MUITO BOM,parabens pelo discernimento,e por contribuir para o esclarecimento k este momento precisa.
ResponderEliminarMuito obrigado.
BENFICA SEMPRE,VIVA O BENFICA
Abraço
Na primeira vez que venho cá só tenho a dizer que está aqui um belíssimo post!
ResponderEliminarTive k partilhar no face,obg
ResponderEliminarNão acredito que Matic saia este ano.A final da champions é na Luz para o ano e acredito que os melhores ficarão.Além disso se formos campeões como todos desejamos o plantel sairá valorizado e teremos vários jogadores para vender por boas maquias..Não deito já a toalha ao chão por Nelson Oliveira..Acredito que fará um percurso semelhante ao Coentrão.
ResponderEliminarDe resto,excelente post.
O Bruno César não falhou. Ele não teve sucesso que é diferente. Alguém o sentia como parte fundamental da equipa? O Benfica precisava de vender, tinha não sei quantos extremos, precisava de valorizar os jogadores que já lá estavam e podem crescer mais (Gaitan , Urreta...), despachou dois (um por $, outro porque não tinha espaço). Foi bem feito.
ResponderEliminar"Se os jornais e as redes sociais fizessem plantéis o Benfica hoje teria a jogar o Quim, o Roderick, o Sydney, o Nélson Oliveira (que nem no Corunha joga!)" - Isto é falso, não somos lagartos...
"Nélson Oliveira (que nem no Corunha joga!)" - O ano passado não era o cavalo?!
De resto, concordo. Acho que o Djuricic já é mais jogador que o Ola John (e não o vi só nos videos do youtube) e que se irá tornar num enorme jogador. Oxalá venha.