quinta-feira, 31 de maio de 2012

Jovens lobos ou caçadores velhos?

Está a decorrer neste momento o que eu diria que é o melhor clinic que já se realizou sobre os temas Idade vs. Juventude e Talento Individual vs. Trabalho Colectivo.

É um clinic aberto ao público e eu aconselhava toda a gente a ver, porque há ali muita coisa a aprender sobre o que é mais importante para ganhar, experiência ou vigor físico.

Dá todas as noites por volta da 1.30 da madrugada e o seu nome oficial é «Finais de Conferência da NBA».

Os intervenientes são os seguintes:

Oklahoma City Thunder – equipa muito jovem

Miami Heat – equipa jovem

San Antonio – equipa velha

Boston Celtics – equipa muito velha.

Oklahoma está a jogar com San Antonio e Miami com Boston.



Guia técnico para o clinic, para os interessados:



Oklahoma – O seu franchise player é Kevin Durant, de 21 anos, melhor marcador de pontos da liga, um prodígio que, se não tiver lesões graves que lhe cortem a carreira, a vai acabar, provavelmente, entre os três melhores marcadores na história da NBA. Marca pontos de todas as maneiras e feitios.

O outro jogador-chave no one-two-punch, como chamam os americanos, é o base Russell Westbrook, também de 21 anos, um dos jogadores mais rápidos da liga.

Os Thunder têm outros jogadores importantes, obviamente, mas este é o seu núcleo de sucesso ou insucesso. É o que estes dois rendem, em conjunto, que determina 80 por cento das hipóteses de sucesso da equipa.

Oklahoma eliminou Dallas, o campeão em título, por 4-0, e é considerada uma das equipas dominadoras da NBA nos próximos dez anos, por razões óbvias.

Neste momento, Oklahoma perde por 2-0 com San Antonio na final do Oeste. O terceiro jogo é hoje de madrugada.



Miami – Tem aquele que eu considero, tecnicamente, o melhor jogador na história do basquetebol, LeBron James, de 27 anos, que, apesar, de estar há 9 anos na Liga, ainda não conseguiu ganhar nenhum campeonato.

Porque é que o considero o melhor jogador de sempre em termos técnicos?

Porque, no conjunto capacidade técnica-capacidade física é uma aberração da natureza. LeBron James consegue jogar a base, a extremo ou a poste, devagar, depressa, consegue marcar de 3 pontos, marcar debaixo do cesto, defender um jogador de 2.10 ou outro de 1.80 (como aconteceu ontem com Rajon Rondo).

Vamos traduzir isto em termos futebolísticos – imaginem um jogador com a capacidade física do Ronaldo, a habilidade técnica de Messi, a inteligência do Pirlo, o sentido colectivo do Scholes e, se for preciso, a versatilidade defensiva do Sérgio Ramos. Se tivesse ficado pelos dois primeiros já era uma impossibilidade da natureza, não era? Exactamente.

Só há uma razão para este jogador ainda não ter sido considerado um dos dez melhores na história da NBA, para não ter ganho um título e para nem sequer ser colocado, por exemplo, ao nível de Michael Jordan, que lhe era tecnicamente inferior em todos os aspectos: porque, ao contrário de Jordan, lhe falta o instinto assassino. Para LeBron James é uma luta ter de matar um adversário, e por vezes até dá a ideia de que é uma luta não passar a bola aos companheiros de equipa em momentos importante do jogo, apesar de ser tão incomparavelmente melhor que eles. Ao contrário de Jordan, que exigia a bola para poder matar, James parece evitá-la para não ter de o fazer. É um tipo bonzinho. Tão bonzinho que, há dois anos, deixou a sua equipa para ir para os Heat, a equipa de Dwyane Wade, onde, durante uma época, ainda ouve a ilusão de que aquilo pudesse ser uma coisa bicéfala, quando, na verdade, teria de ser sempre James e mais quatro. James é tão bonzinho que ainda hoje diz que a equipa é a equipa do Wade. O Jordan nem nos seus piores pesadelos diria uma coisa destas.

Aos 30 anos, Wade, atenção, é um dos cinco melhores jogadores da Liga. Já ganhou um campeonato praticamente sozinho, há uns anos.

O one-two-punch dos Heat é o mais forte da NBA, e encontra-se no período de maturação ideal, a mistura perfeita entre experiência e saúde física. Os Heat são os crónicos favoritos ao título desde que James se transferiu para lá, e no ano passado perderam a final para Dallas.

Para terem o privilégio de ter estes dois jogadores, contudo, os Heat tiveram de enfraquecer o resto do plantel (as leis da NBA estão feitas nesse sentido), e o seu jogo colectivo ressente-se disso. O que James e Wade fazem determina 100 por cento do sucesso da equipa.



San Antonio – No caso de San Antonio é necessário falar de três jogadores-chave: Tim Duncan, um extremo-poste de 36 anos, que, de todos os jogadores em actividade, é o que tem maior sucesso individual e colectivo; o argentino Emanuel Ginobili, de 34 anos, extremo; e o base francês Tony Parker, de 30 anos, que foi casado com a Eva Langoria.

San Antonio é uma equipa na verdadeira acepção da palavra.O seu estilo de jogo é colectivo e sem invenções. É uma equipa que tem tudo no lugar, até a distribuição de qualidade nas posições base-extremo-poste (sendo o melhor o poste, o que, historicamente, é de grande importância na NBA), e que ganhou três ou quatro campeonatos nos últimos dez anos. Talvez a melhor forma de definir o que é San Antonio, como equipa seja a seguinte: Tim Duncan, o seu jogador-chave, tem a alcunha de Big Fundamental, o Grande Fundamento. Executa exemplarmente tudo o que é fundamental e elementar e poupa-se em tudo o que é supérfluo. A sua imagem de marca é o lançamento à tabela (que, quem jogou basquete, sabe que é o mais básico e eficaz de todos) e já não me lembro da última vez que o vi fazer um afundanço, apesar de quase lhe bastar levantar os braços para afundar.

Outra coisa importante, que gostava que recordassem: Manu Ginobili é o maior competidor que eu já vi sobre um campo de basquetebol. Até maior que Jordan. Manu Ginobili é a máquina perfeita de competir. Sabe sempre o que é preciso fazer para ganhar, fá-lo e, quando não ganha, é porque falhou a execução. Não tem um talento como o de Jordan. Se o tivesse teria sido o melhor basquetebolista de todos os tempos.

E é canhoto e argentino, o que, só por si, já é meio caminho andado para a divindade.

Os Spurs eram dados como uma equipa acabada, sem pernas para ganhar mais campeonatos,. Mas este ano aconteceu uma coisa extraordinária: metade da época não se disputou, por causa do lock-out. Ou seja, os quatro meses de competição que a equipa tem no depósito de combustível, este ano, representam quase a totalidade da época. Resultado: os Spurs vão em 19 vitórias consecutivas nesta altura da época, incluindo 9 no play-off, e chegam à fase decisiva em grande forma, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, em que, por esta altura, já andavam todos pendurados.



Boston – São a equipa mais aguerrida e lutadora na NBA. Pura e simplesmente não entregam os pontos, lutam sempre e, como conseguem juntar a esse espírito competitivo insuperável uma grande qualidade técnica, chegam a esta fase com hipóteses de ganhar. Ganharam o campeonato há três anos, derrotando uma equipa dos Lakers favorita, contra todas as expectativas. Mas fisicamente estão por um fio.

Os seus jogadores-chave são Kevin Garnett (36 anos), Ray Allen (36 anos), Paul Pierce (34 anos) e o miúdo Rajon Rondo (26 anos) a base, que é quem faz aquilo tudo mexer – a custo.

É preciso ver jogar Boston para perceber como uma equipa tão velha consegue competir tanto. Grande defesa, jogo a meio-campo esmerado, grande classe dos seus jogadores, conhecimento de como jogar em todos os momentos do jogo.

O próximo jogo Boston-Miami é, depois de amanhã, em Boston, o que é excelente, porque em casa esta equipa torna-se assassina.



A expectativa inicial era que Miami e San Antonio se encontrassem na final, e está a correr nesse sentido. Ambos ganham 2-0, neste momento, à melhor de sete.



A grande questão é a seguinte: vai LeBron James finalmente cumprir a sua promessa de destino glorioso e ganhar o primeiro título?

Na minha opinião, não. É a equipa que vai ganhar, e a equipa, neste playoff, é San Antonio. E é uma equipa que sabe, como equipa, como ser campeã. Penso que vai ganhar por pormenores, provavelmente a sete jogos na final, e provavelmente com Ginobili a tomar as decisões que anulam a vantagem técnica e física dos Heat.

Mas façam assim, se quiserem pensar nesta questão entre juventude e experiência fora do contexto do futebol, esta é uma oportunidade imperdível. Sair da caixa é uma maneira de colocar as coisas em perspectiva e de aprender.

O cenário está apresentado e os jogos dão de madrugada e repetem à tarde.

Vejam, e no fim falamos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Tarzan Taborda

Permitam-me que invoque os dignificantes minutos em que a equipa de basquetebol do Benfica foi iluminada pelos isqueiros no pavilhão do Porto – felizmente que os portistas são pessoas mais civilizadas que os benfiquistas e não apagaram a luz, porque desta maneira pode ver-se a equipa do Benfica a festejar a conquista do título como deve ser (e a receber o troféu na cabine – para ter aqui um momento Tarzan Taborda.

A propósito do presidente do Porto a ralhar com a polícia por cumprir o seu dever, mostrando quem é a verdadeira autoridade neste regime democrático, eu afirmo que, se eu fosse presidente do Benfica, há muito (muuuito) tempo que esta paródia tinha acabado. E provavelmente tinha acabado tão mal que o Pinto da Costa, e eu próprio (como presidente do Benfica), já estaríamos exilados.

Quando se defronta uma força que não aceita nenhuma ordem que não a sua, só há duas estratégias possíveis: ou rendermo-nos e aliarmo-nos a ela, quando a nossa força é menor; ou enfrentá-la na mesma moeda e procedermos a uma escalada de violência sem contemplações a nada nem a ninguém, quando a nossa força é maior.

A força do Benfica é maior que a força do Porto. A única coisa que torna o Benfica mais fraco que o Porto são os escrúpulos em usar essa força, que não existem do lado do Porto.



Se eu fosse presidente do Benfica, há muito tempo que teria usado a força do Benfica para destruir o sistema e, com ele, Pinto da Costa.

Como? Indo directamente ao momento da verdade, passando por cima de todas as tibiezas, dos prolegómenos, dos entretantos. Há muito tempo que eu teria convidado o Sporting, o Guimarães e mais meia-dúzia de clubes de dimensão relevante em Portugal para criar uma nova organização de futebol em Portugal. Quando? Para não ir mais longe, assim que o advogado do Pinto da Costa, Lourenço Pinto, foi escolhido para nomear e classificar árbitros, em meados da década de 90. Teria sido o momento ideal, pelo puro desplante da situação.

Depois disso, tudo o que veio foi menor. O poder, a partir daí, já estava totalmente instituído. Aproveitando um momento de grande fragilidade directiva de Benfica e Sporting, Pinto da Costa instituiu, tacitamente, a hierarquia natural. A partir daí ficava implícito que ele poderia fazer o que quisesse, e esse statu quo ainda não se alterou.

Hoje, com o poder instituído e sedimentado, é mais difícil encontrar desculpas para virar a mesa. Se não se a virou na altura vai-se virar agora? Por isso, seria preciso criar um grand caso. Provocá-lo. Lembram-se do filme Braveheart, quando os companheiros do William Wallace (Mel Gibson) lhe perguntam, na altura das negociações, no campo de batalha, onde ele vai, e ele responde que vai «comprar uma guerra»? Era mais ou menos isso que era preciso fazer agora, para depois jogar forte, pôr os tomates em cima da mesa e usar todo o aparato e toda a força do Benfica num confronto directo e sem subterfúgios. Encontrar um pretexto para ir contra a lei, ir frontalmente contra a lei e, no fim. Ver quem ganhava. A força faz a lei. E a lei, convençamo-nos disso, não é boa nem é má: é feita pelo regime. O regime é do Porto, e o Porto faz  a lei, para não ter que lhe desobedecer e se poder legitimar. O objectivo de toda a força subversiva é atingir o poder e, quando lá chega, legitimar-se.

Querem um exemplo de um bom pretexto?

Esta história do Nacional e do Marítimo contra o Sporting.

O Sporting tem aqui uma oportunidade histórica para recuperar a sua força real no futebol português, e até aumentá-la. Como?

Fácil.

É deixar que o processo se abra e ignorá-lo do princípio ao fim. Ignorar as instâncias federativas, ignorar os procedimentos, ignorar a autoridade. Ignorar totalmente a autoridade. Nem sequer mencionar o caso – e quanto mais audível ele se tornasse melhor. Deixar toda a gente a falar. Colocar-se acima da lei. E, depois, esperar que o descessem de divisão.

Esperar para ver quem é que era o primeiro a pegar no telefone.

Reparem nisto: teoricamente, a França e a Alemanha são as duas potências do eixo europeu, e igualmente importantes. No palavreado, dizem que têm de trabalhar em conjunto.

Na prática, quando o Hollande ganha as eleições em França, quem é que apanha o avião e quem é fica à espera?

Vão ver às notícias, se não repararam.

Tudo é política. O poder está em todo o lado, e é de quem o queira (mais) agarrar.

domingo, 20 de maio de 2012

Dar o flanco

Hugo Vieira no Benfica.

É fácil dizer que é mal comprado, porque não tem nome e, no Benfica, para os adeptos, o nome é o mais importante – porque, quando não conhecemos mais nada do jogador e sabemos pouco de futebol, como é o caso de 95 por cento de nós, o nome é tudo o que temos para nos orientar.

É provável que dê em nada. Não sei se terá estofo para ganhar um lugar no Benfica.

Mas não é possível garantir, à partida, que venha a ser um fracasso. Noutros tempos, quando se comprava um terço dos jogadores que se compra hoje e quando se comprava a pensar num plantel de 20 jogadores, e não de 40, ir buscar um jogador sem escola era motivo de esperança. Lembro-me, por exemplo, do Paneira, que veio da III Divisão. Actualmente, quando a lógica é diferente – comprar por atacado e antecipação à espera que um em cada três pegue – é motivo de desconfiança.

Em termos puramente futebolísticos – se considerar o facto de contar como português e de ter saído a custo zero – há algumas coisas a favor dele: joga nos dois flancos; dizem que tem instinto para o jogo (o que é melhor que ter escola); parece-me suficientemente burro para não perceber bem a dimensão do desafio que tem pela frente, o que é bom, porque é a melhor maneira de não se borrar todo.

Probabilidades: 90 por cento de ser um flop; 10 por cento de ser a revelação do ano. Não há meio-termo. É o Benfica.

Por outro lado, a contratação de um português barato para suplente dá indicações sobre duas coisas que podemos esperar neste Verão: a saída de Saviola, que é menino para ganhar uns 300 mil por mês, e a contratação de um avançado de grande categoria com o dinheiro da diferença.

Devo dizer que vejo o Benfica a trabalhar bem – com um critério próprio, com autonomia, a pensar de dentro para fora e não de fora para dentro, e sem se preocupar em demasia (para já) com as capas dos jornais.

O caso Ola John está a ser a excepção. Está a fugir do controlo em termos mediáticos e, neste momento, a não-contratação do jogador (o que é sempre uma possibilidade dado o custo e a concorrência) já seria um fracasso, apesar de não haver nada que indique com certezas que a sua contratação fosse benéfica. Chama-se a isto dar o flanco. Se chegar lá um Manchester qualquer ou um Bayern o Benfica, que nunca teria hipótese sequer de concorrer com algum deles, fica a parecer perdedor, mesmo que nem sequer esteja no mesmo campeonato. Isto repete-se vezes demais, e por uma única razão: porque ainda não se impôs um exemplo suficientemente claro para todos os empresários perceberem que, se falarem, perdem o negócio. Tem de ser num caso como este, de perfil elevado, para ser suficientemente audível e compreensível para toda a gente. «Se abres a boca antes da hora, deixamos-te cair no segundo imediatamente a seguir.»

*

O Sporting perdeu a final da Taça pela mesma razão que vai perder o campeonato do ano que vem: porque não campeões de autocarro. Com doze meses de antecipação, prevejo a conclusão que o Jorge Baptista (um valor seguro  na chamada «análise daah…») vai tirar, na SIC, em relação à época do Sporting: «O Sporting não jogou mal, tem uma equipa arranjadinha, que luta muito, à imagem do seu treinador, mas não se pode ser campeão a perder tantos pontos em casa contra as equipas chamadas pequenas. O Sporting, à imagem de outros anos, voltou a demonstrar uma incapacidade flagrante para marcar golos em casa contra defesas muito fechadas, que é o pão nosso de cada dia no campeonato português.»

quinta-feira, 17 de maio de 2012

«Tou? É do Liverpool?»

…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



A convocatória do Paulo Bento.

Custódio, Varela, Nélson Oliveira, Miguel Veloso, Ruben Micael, Hélder Postiga… Uau. Mete medo.

É irrelevante.

O que decide estes campeonatos, salvo ocasiões em que há uma equipa claramente acima das outras (como a Espanha no último) é uma conjugação de dois factores:

- a equipa com o melhor onze;

- o onze em melhor forma neste momento da época (o que tem muito a ver com o desgaste da temporada).

Nestas competições, seja qual for a modalidade (futebol, basquetebol, futebol americano, xadrez), que se disputam num lapso muito curto, o que ineteressa, mais do que o valor potencial, é o valor no momento.

É mais provável Nani fazer um grande Europeu que Ronaldo fazer um grande Europeu. É mais provável Bruno Alves fazer um grande Europeu que Pepe fazer um grande Europeu. Raúl Meireles mais que Moutinho. Fazer uma época inteira, parar durante um mês e recomeçar a jogar à espera de se estar na melhor forma? Nem pensar.

O nosso onze é bom. A nossa forma, vamos ver.

E no fim, claro, ganham os alemães.



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



Wass convocado na Dinamarca. «Was?!»



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



Javi Garcia testado na Espanha. Ó homem, tá lá quieto, deixa o rapaz sossegado. Logo agora que as coisas estavam a correr tão bem! O gajo dá muita porrada, pá, tu não o queres na selecção, vai-te borrar o rimel todo.



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



Lazio vai oferecer 4 milhões por Jardel? Ah, sim, já chegou o Verão…



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



Yartey na selecção do Gana? Olá… Ou será que isto é como no Brasil, em que basta ter duas pernas e um penteado para ir à selecção?



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



Mancini: «Gostava de ser campeão no Benfica.» De onde é que esta apareceu? Querem saber o que eu acho? Aqui há dedo do Eriksson. É o padrinho do Mancini.



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



Cardozo: «Quero acabar a carreira na Luz». Tu queres é o c….., ouviste?!



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



«João Pereira com um pé no Valencia.» Sem ver a jogada, tenho a certeza que é para vermelho.



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



«Kenny Dalglish abandona o Liverpool». «Tou? É do Liverpool? É pá, temos cá um treinador que é um espectáculo. Vale a pena. Jesus. Tou? Alô?...»



…Ti-ti-tiri-ri-tiri-ti-ti…



O grande momento do ano futebolístico: os cinco minutos finais do Manchester City- Queen’s Park Rangers. Sem qualquer tipo de dúvida. E já estou a considerar o Europeu que ainda não começou. Isto não acontece uma vez em dez anos: acontece uma vez em cem anos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

É quando eles pensam que ganharam que...

Hoje, uma sessão de Consultório Sentimental da Maria.

Penso que as pessoas que vêm cá há mais tempo já me vão conhecendo o suficiente para saberem que não sou um tipo particularmente vaidoso, ou orgulhoso. Sou um tipo vulgar. Não sou dos que têm de ter sempre razão, nem sou dos que, quando dizem que uma coisa é preta, continuam a dizer que é preta mesmo depois de toda a gente perceber que ela é branca, só para dizer que tem razão.

Por isso, sinto-me à vontade para dizer uma coisa que pode parecer vaidade, ou imodéstia, mas que não é.

Eu sou um gajo que costuma ganhar.

Não é gabarolice, nem acho que seja uma coisa assim tão importante. Ganhar ou perder é desporto, como diz o outro. Mas é uma constatação dos factos. Não tenho grandes capacidades mas tenho um feitio alfa, e geralmente acabo por ganhar. Ao analisar a minha vida profissional, académica, pessoal, vejo-as cheias de pequenas derrotas, mas, olhando para o quadro mais amplo, acabo por ter de reconhecer (vendo-as como se estivesse do lado de fora), que saio por cima.

Sou um tipo fisicamente abaixo da média, intelectualmente normal, socialmente inapto. Analisando-me, só encontro três explicações para ganhar como ganho:

- dedico-me obsessivamente àquilo que me interessa;

- tenho um comportamento compulsivo em relação ao triunfo;

- e (o mais importante) a competição só acaba quando eu digo que acaba.

Eu sou a tartaruga, que ganha porque continua a andar quando todos os outros param.

Só percebi a importância da obstinação no meu sucesso depois do meu filho nascer. O puto é igual a mim, e só então percebi que eu também sou assim. O meu filho não é teimoso – é obstinado.

É preciso perceber a diferença, porque, passe a redundância, faz toda a diferença. Uma pessoa teimosa é uma pessoa que acha que a realidade deve ser como ela quer. Uma pessoa obstinada é uma pessoa que não aceita a realidade até ela ser o que ela quer.

Um cão teimoso ladra pelo osso. Um cão obstinado morre à espera do osso e morre feliz porque, ao morrer, morre convencido de que ganhou.

Como devem calcular, requer muitos anos habituarmo-nos a viver com a nossa obstinação, porque não é uma coisa voluntária. É um estado de espírito permanente, inconsciente. Sobretudo, leva muitos anos até aceitarmos que a forma de lidar com a obstinação não é lutar contra ela mas aceitá-la como uma coisa trágica e, ao mesmo tempo, natural.

Pensei nisto quando vi o Pinto da Costa dizer que a estratégia do Benfica tinha sido importante no sucesso do Porto.

Sucesso?

Qual sucesso?

O jogo só acaba quando eu disser que acaba.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A minha equipa

Estive em Marte e, estranhamente, em Marte não há rede.

Como tal, não sei ainda aí está alguém.

Está aí alguém?

Bom, seja como for, segundo os jornais, o Benfica já contratou ou está prestes a contratar cerca de 8 jogadores desde o jogo com o União de Leiria. Eu, no entanto, vou negar a realidade, fazer de conta que o Benfica ainda não contratou ninguém, e fazer o meu plantel para o Benfica da próxima época, juntando algo que é possível a algo do que é inevitável a algo do que seria desejável.

O objectivo é o seguinte: como tirei o L123 para Marte, e não vou ter tempo para mais que quinze a vinte minutos por dia para o blog para aí até começar o Europeu, usamos os comentários para irmos actualizando a coisa.

Eu digo os jogadores que queria (ou poderia) ter, sem dizer mais nada, e depois, quando vocês me chamassem totó, ou quando concordassem, eu explicava as razões e os critérios. E há muito para comentar creio eu.

O meu plantel do Benfica para o ano seria o seguinte:

Guarda-redes: Artur, GR2 (e GR3)

Defesas: Maxi Pereira, Luisão, Garay, DE1, DC3, DMP

Médios: Javi Garcia, Witsel, MC3, Aimar, Matic, Carlos Martins

Avançados: AV1, Rodrigo, Nolito, E2, E3 e Nélson Oliveira



Sendo:

GR2 – Um guarda-redes português de nível imediatamente abaixo da selecção, ou estrangeiro com experiência no campeonato português

GR3 – O guarda-redes da equipa B

DE1 – Um defesa-esquerdo internacional, de nível intermédio entre Álvaro Pereira e Fábio Coentrão, suficientemente caro, se for preciso, e não é um miúdo de 20 anos.

DC3 – Novamente, nada de miúdos. Quando temos de substituir um dos centrais titulares não queremos um miúdo de 22 ou 23 anos, sem rodagem nas pernas, a entrar de repente. Tem de ser alguém que valha cerca de 80 por cento de Luisão.

DMP – Um defesa/médio polivalente que consiga fazer qualquer das laterais. Este não tem obrigatoriamente de ser muito experiente, fundamental é que seja um tipo que consiga jogar 60 a 70 por cento do tempo de jogo, numa temporada, dos titulares, rendendo cerca de 70 por cento do que eles rendem. Se for preciso também deve poder jogar a meio-campo. Estou a pensar num Rúben Amorim mas para melhor, alemão.

MC3 – Aqui quero 90 por cento de um Özil. Este é que tem de ser o craque. Nada de fintinhas, nem de rodriguinhos, nem de invenções: um jogador fisicamente forte, colectivo, atacante, capaz de pressionar e de pôr a equipa a jogar depressa. Novamente, sobretudo aqui, nada de criancinhas. Este não é para vender: este é para chegar, entrar e render, tenha 24 ou 28 anos. Este é um investimento na equipa, não mercado. E se for um gajo ruim, mauzinho, a jogar à bola, melhor. Só o Javi a partir lenha é pouco.

AV1 – Não é um pinheiro, é um tipo que permita à equipa fazer duas coisas: ter fio de jogo no ataque e pressionar alto. Não é preciso um jogador que marque 40 golos na época. 20, ao todo, bastam, desde que permita à equipa ser mais eficiente a atacar e mais eficaz a defender.  Rodrigo está pronto para ser o ponta-de-lança titular do Benfica. Vai marcar tantos golos como Cardozo. A ideia era ter outro Rodrigo como AV1. Não complementar, não é preciso. Um punch duplo.

E2 – Este é para ser titular. Não é o Bruno César, nem é Melgarejo de certeza (que ainda não mostrou o suficiente para ser titular do Benfica), e duvido que seja o Ola John, mas um Ola John com mais dois aninhos em cima, um tipo da escola holandesa, mais de passe e desmarcação que de finta, é o ideal. É que os extremos do Jesus, não sei se já repararam, não são extremos nenhuns, são avançados laterais, pois praticamente não jogam para o ponta-de-lança nem centram. São pivôs nas alas. E não queremos um brinca-na-areia como pivô.

E3 – Estou a dar a titularidade a Nolito. O Nolito tem raça, e os campeões também se fazem dos Nolitos. Este E3 poderia, sim, ser um Ola John, ou um Yannick. Um miúdo, este sim, para ir crescendo e aparecer a sério daqui a uma ou duas épocas. Um Di Maria de primeiro ano.



PS – O TOC disse hoje que não estranhava que o Benfica não reconhecesse o mérito do Porto. É natural que não estranhe. É uma questão da cultura em que se está inserido. O Porto, por exemplo, não reconhece o mérito do Benfica em nenhum dos campeonatos que ganhou desde, pelo menos, 1970.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O que vai correr mal

Tal como eu tinha dito após o jogo com o Sporting, Jesus já não é treinador do Benfica – e parece-me já não o é desde a derrota com o Porto na Luz. Sendo um homem do futebol há 40 anos, e treinador há quase tantos, Jesus percebeu que o seu tempo no Benfica estava acabado a partir desse momento e começou a preparar a sua saída, provavelmente de comum acordo com Vieira, ou pelo menos cada um sabendo o que ou outro também sabia embora sem o colocarem em pratos limpos. Não interessa. Já não é, e até sair é uma questão de tempo. Já toda a gente percebeu.
É, portanto, a altura certa para se falar de treinadores.

Antes de falar de nomes começo por dizer tudo o que vai correr mal, porque é mesmo assim independentemente de quem vai ser.

Antes de mais, o novo treinador vai receber mais importância do que a que deveria ter. Um treinador, no Benfica, nunca é um empregado, é sempre um salvador. Vai ser o homem «que vai resolver os problemas da equipa» e vai ser mais importante do que os jogadores, como se fosse um mestre da manipulação e, graças às suas capacidades mágicas, os jogadores só funcionassem de acordo com o seu mais pequeno gesto – como se não fossem os jogadores, de facto, quem ganha ou perde campeonatos, muitas vezes mesmo até apesar do treinador, como se viu este ano no Porto.

Só por causa disso, por se partir da premissa errada, há 90 por cento de hipóteses do treinador sair, no fim do contrato ou a meio, como uma aposta falhada, mesmo que ganhe um campeonato. Aliás, vai-lhe acontecer o mesmo que ao Jesus. Ou ganha o campeonato no primeiro ano, perde no segundo e sai, ou perde no primeiro, ganha no segundo ano, perde no terceiro e sai. Mesmo que os resultados, no cômputo geral, venham a ser aceitáveis, ou até bons (como foram os do Jesus, na minha opinião), a premissa de que vai chegar um messias que, de repente, põe uma equipa em construção e de nível médio europeu a ganhar a toda a gente e a jogar um futebol perfeito, estranhamente, resulta sempre pelo menos numa desilusão. Vá-se lá compreender o futebol.

Em segundo lugar, o próprio treinador vai contribuir para acentuar a dificuldade do seu trabalho ao trazer consigo não os melhores profissionais para trabalharem como adjuntos no Benfica mas os melhores tipos para trabalharem com ele.  O que significa que a equipa de futebolistas profissionais do Benfica, que custa para aí uns 4 milhões de euros por mês, vai ter um técnico de nível 2, digamos assim (de 1 a 10), e mais três ou quatro técnicos de nível 7 ou 8, que vão ter o privilégio de fazer o contrato das suas vidas porque tiveram a sorte de jogar com o treinador principal quando eram juniores, porque tiraram um curso de treinador na FPF ou porque «já nos entendemos por sinais de fumo». Uma coisa extremamente profissionale, obviamente, nada estranha para ninguém. Eu posso garantir que, se fosse presidente do Benfica, procurava ter não só o melhor treinador como os melhores adjuntos do mundo, e partia do princípio que as probabilidades de essas três ou quatro pessoas terem, por um acaso do destino, coincidido na mesma equipa técnica, seriam de 1 em 550 milhões. Quando contratasse o treinador dizia-lhe: «Eu não contrato treinadores por atacado. Se quiseres levar os teus amigos levas, eu dou-te mais algum, paga-los do teu bolso e põe-los a treinar no parque.» Se os jogadores não são contratados por serem amigos uns dos outros porque é que os treinadores hão de ser?

Em terceiro lugar, o presidente vai perguntar ao treinador se jogador x ou jogador y lhe agrada. E, como sempre, vai dar merda. Não só o treinador vai custar 10 vezes mais pelos jogadores que dispensa do que aquilo que custa pelo que vai ganhar como vai meter lá jogadores «para o seu sistema» e que mais tarde vão custar mais do que ele. Por cada treinador que se muda, nesta lógica porreirista, gastam-se uns 20 milhões de euros. O «sistema» do Jesus, em três anos, deve ter custado uns 50 milhões de euros ao Benfica (para não dizer mesmo que custou 120 milhões). Quem achar que isto é pura e simplesmente estúpido por favor ponha a mão no ar. Obrigado. Pois bem, vai voltar a acontecer.

Porque, como se dá demasiada importância ao treinador, parte-se do princípio que ele tem direito a trazer a sua «táctica». Ora, ao contratar um treinador o Benfica não pode estar a comprar «tácticas».

O sistema de jogo já existe, 90 por cento dos jogadores já lá estão e agora é tarde para dizer: «Ah, mas se calhar podia fazer-se assim.» Errado. Não é assim que funciona. Nesse aspecto a abordagem tem de ser conservadora. Mudar, só com elevadas probabilidades de sucesso, e sempre muito pouco de cada vez. O treinador que vem não deve mudar nada, deve melhorar o que já existe, dentro do sistema que está criado. Porque se não souber fazer isso não é treinador de futebol, é treinador do «losango», ou do «4x4x2», ou do «tridente», ou seja lá o que for. Se o tipo que vier quiser passar do estilo a que a equipa se habituou ao estilo do Barcelona em quatro semanas ao fim de seis meses está despedido e deixa a equipa no quarto lugar. Aí entra a responsabilidade de quem o escolhe. Tem de se escolher um treinador para a equipa, não uma equipa para o treinador. Os jogadores, a cultura implantada e a implantar no clube, o que vai ficar, aquilo de que se deve cuidar no longo prazo, são muito mais importantes para a equipa do que o treinador, se ele está ou não bem disposto, se ele gosta ou não de jogar com um, dois ou três avançados.

O treinador é um profissional que vem melhorar algumas coisas, não todas, e que depois se vai embora, tendo ajudado o clube a subir ais alguns degraus. Esta é a lógica correcta. E fazer isto, só por si, num barco da dimensão do Benfica, já é bem difícil. No Benfica, não fazer merda já é uma virtude, porque a pressão aperta de todos ao lados.

Finalmente, o que vai correr mal (e isto não se vai ver cá fora mas vai acontecer) é que a maior parte do que o Jesus trouxe para o Benfica vai-se embora com ele. Ao tornarem o seu trabalho hermético a quem não faça parte da equipa técnica os treinadores estão não só a proteger-se como a prejudicar os clubes. Quantas vezes é que o Jesus se reuniu com técnicos permanentes do clube e, simplesmente, ensinou? O Benfica tem um gabinete técnico de apoio aos seus profissionais temporários que faça essa transmissão de conhecimentos e que apoie a equipa técnica em trânsito? O Jesus escreveu relatórios sobre jogos, jogadores ou outras situações que fiquem para o novo treinador? (Sim, eu sei que qualquer frase começada com «O Jesus escreveu» é complicada…) Quem, dentro do Benfica, reteve pelo menos uma parte do vasto conhecimento futebolístico do Jesus de maneira a que isso possa ser aproveitado no futuro, e que se possa construir em cima dele? E como?

Quando um técnico altamente especializado é contratado por uma empresa o trabalho que ele faz lá dentro pertence à empresa. É informação, e informação é poder.

Posso arriscar, sem medo de me cair um raio em cima da cabeça, que o Jesus, como bom cigano que é, só vai deixar dentro de uma gaveta o papel da Telepizza. Porque é essa a mentalidade dos futeboleiros. E, como tal, começa-se tudo do princípio. Mas não é só o Jesus: o que vier a seguir vai fazer da mesma forma.

É verdade, nada disto tem a ver com o Cardozo, e com os extremos, e com o Emerson, mas é uma parte do que importa mais, porque é o que permite o sucesso. Faz parte dos 90 por cento de transpiração.

Isto é o que vai de certeza correr mal desde o princípio, porque corre sempre.

No próximo post, então, vamos ao que é preciso no novo treinador.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Carta aberta ao Benfica

Meu amigo,
 

Desanuvia.

Acalma-te.

É o primeiro passo.

Sim, eu sei, Chegámos aquela altura do ano. Eu percebo.

Eu próprio, ontem, estava a ouvir rádio e, de seguida, apareceram o suposto juiz Rangel a falar em «desastre», em «investimento brutal» e nessas parvoíces, e logo a seguir, o António Figueiredo, um tipo umbilicalmente ligado à nossa vergonha, a pedir responsabilidades e a lançar o habitual chorrilho de asneiras a que eu, felizmente, não ligo o suficiente para decorar. Se eu os tivesse ali à minha frente tinha havido asneira da grossa, tinha espatifado pelo menos o juiz, porque se o outro não passa de um analfabeto o juiz teria obrigação de, pelo menos, saber afastar-se da maralha e pensar decentemente antes de ditar juízo. Se eu fico em brasa, imagino como tu te deves sentir ao ver vir ao de cima esta escumalha, esta gente de caca que em tudo vê uma oportunidade de intriga e que em ti vê apenas mais uma besta de carga, que lhes serve para serem mais importantes do que os outros chimpanzés de que estão rodeados – chimpanzés ricos, bem vestidos, bem comidos, bem bebidos, mas apenas chimpanzés.

Mas tens de aceitar que isto é o preço do sucesso. Quanto maior é o animal mais e maiores são os seus parasitas. Este ano vamos ser mordidos ainda mais do que é costume, porque há eleições, porque perdemos o campeonato, porque vai haver dinheiro fresco para gastar, porque o homem já te pôs outra vez a andar de pé. Quando estavas de joelhos só caricaturas é que te queriam, mas agora não, agora já lhes serves outra vez.



Segundo passo: endireita-te.

Esta é a melhor altura para crescer. Se tivesses ganho andava toda a gente no Marquês a perder tempo. Assim, tens tempo, tens vontade e oportunidade para continuar a melhorar o que ainda não está bom. Neste segundo lugar há mais bom que mau. Os distraídos não percebem isto, mas tu e eu sabemos que é verdade. Temos muito por onde crescer, e este é o momento.

Não te podes deixar levar no engodo dos que medem a qualidade da luta pela qualidade do resultado, como o idiota Rangel. Ambos sabemos que não se gasta dinheiro para se ser campeão – que se gasta dinheiro para se ter uma oportunidade justa de se ser campeão. E tu tiveste-a. E estiveste muito bem. Lutaste bem, lutaste mais do que os outros, durante mais tempo e estiveste muito mais perto do limite das tuas forças do que os outros. Caramba, porque não dizer-to: fizeste uma grande época. Eu não esperava tanto de ti, e eu espero sempre muito de ti. Perdemos o campeonato? Irrelevante. Lutámos ombro a ombro por ele, e agrada-me que tenhamos sido nós a perdê-lo e não os outros a ganhá-lo. Por mim seria sempre assim, e enquanto for assim a ordem das coisas está como eu quero. Se podemos perder um campeonato sozinho iremos começar a ganhá-lo assim que nos tornarmos mais fortes. Muito pior era quando não tínhamos sequer força para correr ao lado deles, mesmo quando ganhávamos o campeonato por eles tropeçarem ou se enganarem no caminho.

Vais ter de encontrar os teus líderes. No teu presidente e não só.

Ao presidente tens de o levar a fazer várias coisas importantes. Não o deixes cair na tentação de voltar a vender a alma ao demónio. Afasta-o do São Martinho de Penafiel. Se ele aceitar o dinheiro dele vai sair-nos muito caro. Por mim, prefiro suportar o aperto durante um ou dois anos para garantir a liberdade. Só somos grandes quando somos livres, de outra forma nunca nos permitirão.

Leva-o a acreditar que é preciso ser audaz neste momento, confiar em nós próprios, acreditar na tua força e não a confundir com os que tens empregados temporariamente. Sabes que eu acredito que devemos dar o passo em frente, tomar a iniciativa, ousar fazer para ousar vencer. Estamos à frente dos outros. Temos o momento do nosso lado. A história faz-se destas decisões. Ser grande resulta destes momentos, e começamos a estar acima da vulgaridade quando agimos acima da normalidade.

Não te peço muito mais em relação a ele. Acho que não seria justo. Mas dá-lhe a inspiração de liderar, de ser caçador em vez de caça, de agir em vez de reagir. Eu sei que pode parecer pouco, mas é tudo. Nós, os que estamos cá fora, só precisamos disso, de liderança.

E, entre nós, acha também os teus líderes. Põe-nos no caminho quem nos oriente. Quem consiga abrir a caixa e iluminar as almas. Acredita que a pior coisa que carrego dos nossos piores anos não são os resultados, mas a pobreza de espírito de tanta e tanta da nossa gente, que esses fracassos revelaram. Continuo a acreditar na tua capacidade de trazer ao de cima não só o pior mas também o melhor da tua gente.

Eu também te uso, como bem sabes. Mas uso-te para sonhar, e o que sonho para ti nem tu, nunca conseguiste ser. O que eu quero para ti é que sejas mais do que és, não que te axandres à mediocridade dos teus parasitas. Por isso, perdoa-me por também te usar, pois acredita que, se todos te olhassem como eu, serias o que nunca foste.



Terceiro passo: caminha direito e a direito.

Pensa pela tua cabeça. Assume os teus riscos. Paga o teu preço e recebe a tua recompensa. Não te deixes enevoar pelos outros. No próximo mês muita gente vai tentar ajoelhar-te outra vez. Uns fá-lo-ão de forma boçal, mas outros serão inteligentes, pois conseguirão pôr a tua gente em desavença. Somos pessoas de coração ao pé da boca, sentimos antes de pensar, estas coisas são mesmo assim. Quanto mais depressa te puseres de pé melhor. Não podes ficar mais tempo a pensar no que perdeste, tens de usar o que perdeste para pensar no que tens a ganhar. Se te mostrares forte, orgulhoso – não estúpido, nem vão, mas forte, orgulhoso, consciente e autónomo – eles irão recear-te em vez de te atacar. O ser humano não compreende a fraqueza nem aceita a submissão. Somos animais ferozes e ignorante. Agimos por medo. Mostra-te direito. Não te rebaixes. Segue o teu caminho. Se o fizeres, os que te atacam terão de te seguir. Porque tu és o maior, e por onde tu fores, os outros também irão.



Amen.



Assinado: o teu amigo de sempre.