Tenho de
confessar que já não via o Benfica jogar com atenção há uns tempos. Foi hoje. Porque não
gosto de fazer figura de velho dos Marretas e dizer mal só por dizer. Fiquei
genuinamente atento a ver o que estava diferente, o que estava igual, e o que
pensar dos novos jogadores.
Quanto à «estrutura», acho que a forma do
Jesus pensar o futebol é relativamente simples de entender. É um treinador de
esquemas. Divide o jogo em bocados e tenta encontrar um esquema. Tem os
lançamentos laterais, os cantos ofensivos, os cantos defensivos, o ataque do
lado esquerdo, o ataque do lado direito, a defesa por aqui, a defesa por ali,
tem a defesa, o meio-campo e o ataque, e depois vai montando o jogo, retalho a
retalho. Foi o que o futebol português lhe ensinou.
Porque é que
o Cardozo, para o Jesus, não tem preço? Porque há um bocado do jogo (para aí
cinco ou seis vezes em noventa minutos) em que a bola vai dar à grande área, e
um tipo que consiga meter o pé e, de primeira, enfiá-la na baliza nem que seja
um terço das vezes, resolve esse bocado. Não serve para nada noutros bocados?
Arranja-se um esquema.
O Jesus
nunca vai perder um campeonato por não ter jogadores pesados, porque aprendeu,
ao longo dos anos, em todas as divisões, que o futebol português tem
campeonatos que se decidem no Inverno e em maus relvados.
O Jesus nunca
vai perder um campeonato nos pontapés de canto ou por ter centrais baixos,
porque sabe que noventa e cinco por cento das jogadas de ataque de todos os
jogos do campeonato acabam num cruzamento para a área.
Nunca vai
perder um campeonato por jogar sem um trinco que varra a intermediária, porque
sabe, por experiência, que, num campeonato de pontapé para a frente e pouca
capacidade técnica, praticamente todas as jogadas de perigo das equipas
pequenas, em casa, resultam das segundas bolas.
É assim, ao
fragmentar o jogo e tentando resolver cada fragmento um a um, tentando retirar
aos jogadores o máximo de importância em cada acção (porque sabe que o jogador
é um animal pouco fiável, basicamente calão e geralmente com pouca vontade de triunfar,
ao contrário dele), que o Jesus vai ganhando campeonatos, apuramentos para a
Europa, subidas de divisão.
Foi assim
que chegou à Luz e, sendo campeão na primeira época, se convenceu, para todo o
sempre, que essa maneira de trabalhar chegava. Encarou essa vitória como a
prova concludente de que era o melhor condutor do mundo.
É esse o
limite do Jesus, e é esse o limite da equipa do Benfica, que nunca vai deixar
de ser campeão por não ter centrais altos, trincos, matadores e jogadores
especialistas em alguns momentos do jogo, mas que nunca conseguirá ser uma
equipa capaz de ligar as diferentes fases do jogo. Porque não jogadores nem
treinadores com espírito colectivo suficiente para isso.
Pode vir a ser
campeã, mas apenas se o Porto se deixar convencer de que não há hipótese de não
cilindrar qualquer equipa do campeonato em dez minutos. Se isso acontecer, há
uma hipótese de que, num dos jogos entre-Champions, esses «dez minutos à
campeão» não resultem e que o Benfica, se se mantiver por perto, aproveite, no
momento certo, para os enganar. Fora desse cenário, é irrealismo. O Porto é uma
equipa que se situa num patamar competitivo entre o lugar 12 e 16 da hierarquia
europeia, o Benfica estará sensivelmente entre as posições 25 e 30. Em cada dez
jogos disputados em terreno neutro, em condições de igualdade de motivação e
necessidade de ganhar, o Benfica ganha dois, empata dois e perde seis. E, da
maneira como o campeonato está desequilibrado a favor destas duas equipas, para
o Benfica ser campeão empatar não chega.
Em relação
aos jogadores, confirmo o que pensei na altura da contratação do Ola John. Tem
escola, faz-me lembrar o Ruud Gullit, mas muito menos potente, e é, claramente,
um extremo-pivot, parecido com o Gaitán, que faz jogar, menos veloz, menos
técnico, mas claramente mais inteligente e muito mais colectivo.
O Matic é um
excelente jogador, claramente diferente do Javi Garcia, muito menos
especialista na primeira fase defensiva mas muito mais completo, e eu diria mesmo
que mais próprio de uma grande equipa europeia do que o Javi Garcia em termos
de características, por ter visão de jogo, capacidade técnica e comprimento e
largura de jogo. Não é um jogador unidimensional, como Javi. Mas também não tem
o seu carácter – e o que as grandes equipas compram é carácter. Talvez se
revele, com a rodagem.
O Melgarejo
esta melhor, obrigado, mas quando apanhar com o James vai ficar despido da
cintura para baixo.
O Enzo Pérez, técnica e tacticamente, é bom jogador. Tem fibra. Vamos ver o que vale para a equipa a longo prazo. Penso que, pelo menos, não será difícil vendê-lo acima do preço de custo.
O Lima tem
tantos golos nos pés como o Cardozo, e mais jogo. Ao vê-lo jogar, cada vez mais
me convenço que tinha razão ao pensar que, nesta equipa do Benfica, qualquer
avançado com o mínimo de espírito assassino marca 40 golos por ano, sem ter de
ser uma nulidade em todas as outras fases do jogo, como é o Cardozo. O Cardozo
está numa fase boa, está maduro, deixou de perder muito tempo a tentar fazer o
que não sabe e, por isso, está muito mais confiante em si próprio e parece
melhor jogador. É o normal num jogador que chega aos 30 anos. Tem mais 30/40
golos até acabar a sua carreira no Benfica. Há um, dois anos, teria sido bem
vendido, indo buscar um Lima qualquer. Actualmente, já não faz muito sentido
pensar nele como jogador para vender, mas antes como um investimento consumado,
para jogar mais dois ou três anos, fazer de conta que se dá muito valor aos
jogadores-património e ir aproveitando os seus bons momentos, que, contra os
Setúbais deste campeonato, valem alguns pontos.
Quanto aos
outros, uma palavra só para o Rodrigo e para o Sálvio. O Freitas Lobo perguntava
na televisão, há uns dias, o que se passava com a evolução do Rodrigo. Passa-se
exactamente aquilo que eu previ, há um ano, que se passaria: a falta de cultura
colectiva do treinador e da equipa leva a que o Rodrigo, como o Sálvio, como o
Gaitán, antes dele, como o Nolito, como o Bruno César, como outros, confundam
«jogar bem» com «jogar sozinho».
Por isso, sendo um jogador muito melhor que os
outros, insiste no individualismo, agarra-se à bola e tenta resolver os jogos
isoladamente, levando a que tente fazer o que sabe e o que não sabe e a tomar constantes
opções erradas. Como é muito forte, vai aparecendo para marcar os seus golos. A
imprensa alimenta os egos para vender capas, toda a gente gosta muito, convence-se de que assim é
que é, e uma deficiência pontual e perfeitamente corrigível no processo de crescimento de um jogador excepcional transforma-se num
defeito.
Ainda hoje, ao assistirmos a um jogo do Chelsea, podemos ver,
perfeitamente, a quantidade de erros fundamentais que David Luiz, um dos
melhores centrais do Mundo em potência, comete ao longo do jogo, colocando-o à
mercê do azar. Porquê? Porque o menino era tão lindo que não havia nada a ensinar-lhe.
A não ser as «tácticas», claro…
O Matic se ganhar um terço da agressividade do Javi e meter na cabeça que não pode arriscar tanto no passe como ele gostaria, vira caso sério. O Enzo vai disfarçando com a sua técnica e inteligência mas não tem o instinto de sacrifício pela equipa que a posição de 8 necessita. Nem ele, nem o Bruno César nem o André Gomes, que ainda cheira a leitinho. O plantel necessita da chegada de um novo médio, coisa que muito provavelmente não vai acontecer.
ResponderEliminarO enzo nao tem espirito de sacrifício... O que vale é que você sabe ver futebol...
EliminarQuem tem espirito de sacrifício deve ser o gaitan ou o Bruno César ...
LOL wtf? Se tu te desses ao trabalho de ler o meu comentário vias que na minha opinião nem o Enzo nem o Bruno César têm espírito de sacrifício para jogarem a 8. O que por sua vez não implica que eu ache que o Enzo não presta ou que eu pense que o Gaitán seria o homem indicado para jogar no meio. Mas ainda bem para ti se estás contente com o meio-campo do Benfica, é menos uma coisa com que te preocupas.
EliminarSr "LOL wtf":
Eliminar-Li o seu comentário, caso contrário nao teria respondido... Logo aqui vemos o quão astuto é o senhor;
- mas eu por acaso falei da posição 8??? Falei,sim, de espirito de sacrifício, que é algo característico de uma jogador e nao de uma posição.
- naturalmente, nao estou contente com o meio campo do Benfica, mas tanto o matic como o enzo tem mostrado muita qualidade e capacidade em desempenhar aquelas posições.
Esta percebido sr "lol wtf"?
Mr Fehér:
Eliminar- O que não falta na internet é gente que responde a outros comentários sem os ler devidamente e sem reflectir sobre qual seria a mensagem que o autor queria transmitir. Se tu leste o meu comentário, ainda bem;
- Na minha opinião não se deve separar as características de um jogador da posição que ele ocupa. Um avançado que tenha metade da garra do Maxi Pereira será sempre visto como um avançado raçudo. Um defesa que tenha metade da garra do Maxi Pereira será sempre visto como um defesa banal, a não ser que ele compense com outros atributos como posicionamento, rapidez e/ou inteligência;
- Nunca disse que o Enzo não se estava a safar. O que me parece é que o argentino ainda não tem o perfil para certos jogos que a equipa irá enfrentar esta época. E o pior é que mesmo assim ele é o jogador que melhor desempenha a posição 8 e não tem substituto à altura.
Ok, mas eu li com atenção, como sempre faço, o teu comentário. Tu cometeste um erro que, em Filosofia, se chama "Generalização Apressada". Mas eu até te compreendo: é tanta a malta burra aí a escrever nos blogs que um gajo fica maluco e enfia tudo para o mesmo saco... Sem stress.
Eliminarpatriarca disse:
ResponderEliminarMas é nestas alturas DECISIVAS que o Sistema Mafioso Corrupto entra com mais afinco em acção !!!
Daqui a DUAS jornadas vamos ao ALVALIXO e já hoje se viu o que o SISTEMA AMPAROU as Lagartixas, que não ganhavam o jogo e o Pedro proença Porco DEU DE MÃO BEIJADA os Três pontos aos Osgas.
Percebes muito de futebol...quem treinas?
ResponderEliminarPorque é preciso treinar para perceber de futebol né?
EliminarNao concordo com o que dizes sobre o ola john. Parece me claramente sobrevalorizado, o típico caso de quando se faz uma coisa bem e mal cinco, e mesmo assim é bom jogador. A quantidade de passes e recepcoes que falha é uma coisa absurda. Joga bem nas segundas parte porque tem espaço. E a percentagem em termos de tempo de um jogo em que o jogadores do Benfica têm espaço é mais ou menos 15%...
ResponderEliminarAndré Almeida sofrível sem saber o que fazer à bola quando a tem nos pés...
O melgarejo, coitado, é um gajo com azar. Sr o Jesus me olhasse daquela maneira cagavam-me no relvado, de certeza. Olhar de maluco, foda se...
Na segunda metade da epoca vamos começar a jogar melhor: gaitan, Martins, luisao, aimar, Rodrigo vão aparecer em grande.
Convido-te a visitares o blog "Lateral Esquerdo" e depois fala-me da importância do Ola John....
EliminarPoww!!
Caro ruicosta, bem sei que o ola john tem escola e sabe movimentar-se bem. Mas as vezes que perde a bola por falhas técnicas são demasiadas e infantis e ainda causam contra ataques por parte dos adversários.
EliminarOk?
esta de comparar o ola john com o gullit é digna do freitas lobo. valha nos deus! só por esta exibição de ignorância vale a pena não por cá mais os pés
ResponderEliminarLC
Também ninguém te convidou cabeça de porco...
EliminarPara mim o Matic a jogar a 8 rendia mais, e dava muito mais à equipa do que a trinco.
ResponderEliminarQuanto ao Rodrigo e companhia, tenho pena, por eles, de serem treinados pelo JJ, e o melhor para o Rodrigo era sair para um Liverpool/Borossia/Valência da vida o mais rápido possível, para ainda crescer como jogador. Se não acontecer, mais 1/2 anos e não passará dum jogador mediano, que nem no Benfica será titular indiscutível. Já Gaitan, está longe de ser salvo.