sexta-feira, 30 de setembro de 2011

«Tá controlado, carago!»

Pouco tempo, pouco tempo, mas preciso da minha «dose».

Engraçado como o Standard de Liége reagiu ao calote do Porto – está bem, não é calote, para já é só pagamento mal parado, não me chateiem… – dizendo que o Benfica pagou tudo a horas. Os belgas, afinal, não são passarinhos. Já aprenderam como é que a coisa funciona. Não são só os dirigentes da América do Sul que, quando querem vender um jogador ao Porto, dizem que o Benfica fez uma oferta (e vice-versa).

Neste caso noto o que, para mim, mais do que o folclore, é importante: a falta de liquidez do Porto.
A desculpa de não terem recebido o dinheiro do Atlético de Madrid é, nitidamente, de mau pagador. O que é que o Standard tem a ver com isso? Por essa ordem de ideias o Anzhi chegava ao Porto, levava o Hulk por 100 milhões, punha-o a jogar, não pagava e o tipo da massa dizia: «Ainda não vou pagar porque estou à espera de encontrar petróleo ali num buraco que abri no quintal, e só tenho dinheiro quando me comprarem o produto.»

Agora, o Porto dizer que está à espera do dinheiro do Falcão é revelador do estado financeiro do clube.
A ser verdade, isso revela-nos várias coisas:

- o Porto gastou mais dinheiro do que o que tinha para gastar (senão, obviamente, não estaria à espera do dinheiro do Falcão), e fê-lo em jogadores de segunda linha ou em futuros. À excepção do Kléber, que foi atirado à força para a fogueira e até lesionado joga, o «reforço» mais utilizado, até agora, pelo Porto, é o Defour, com 239 minutos em 900 possíveis, sendo que esses 239 minutos foram em jogos de dificuldade inferior, o que significa que é o 17º (o décimo-sétimo!) jogador em tempo de utilização. Reforço? De quê? (Já agora, em dez jogos o Mangala jogou 90 minutos, o Djalma 57, Bracali, Iturbe, Sandro 0, o Danilo está a jogar mas no Santos. 35 milhões de euros bem empregues, e ainda mais considerando que não foram pagos. Tenho o feeling que há aqui meninos que antes de serem pagos já estão a ser vendidos);

- o Porto não comprou um substituto à altura do Falcão não por opção, nem por confiar no Kléber, nem por mais nada a não ser por ter sido apanhado com as calças na mão. Não comprou porque não teve dinheiro para comprar o único jogador que, realmente, devia ter comprado: um ponta-de-lança para o lugar do único titular que perdeu. O Porto não só gastou muito (e noto que o Iturbe foi o que custou menos) como, na fuçanga de roubar os dois brasucas ao Benfica, gastou antes do tempo;

- o Porto tem problemas de financiamento, apesar das largas dezenas de milhões de euros que recebeu só em vendas de jogadores  nos últimos sete anos.

Engraçado como, na secção portista do Record, ao mesmo tempo que vão dando umas bicadas no Grande Timoneiro, continua a sintonia entre a Direcção e o aparelho de propaganda. A última frase da mini-crónica a que eu chamo, carinhosamente, de cantinho do superdragão, em que um jornalista da casa dá uma opinião bem fundada sobre o dia a dia do clube, podia ter sido escrita pelo próprio team manager – não conheço o tipo mas gostei deste termo, dá uma ideia de grande profissinalismo, à inglesa. Na sequência do encorajamento para o jogo com a Académica, do amigo Pedro Emanuel (vocês vão ver…), Vítor Pinto escreve: «A reflexão sobre as opções de mercado, o modelo de jogo e até as decisões no banco terá de ser feita em cima de um triunfo.»

Tradução para uma mente pouco habituada: a Direcção está atenta aos problemas, não tem a cabeça enfiada na areia, mas pede aos adeptos para não dificultarem o trabalho ao treinador porque um mau resultado em Coimbra poderia complicar ainda mais as coisas. Não tenham dúvidas de que vamos pedir satisfações ao homem, mas tem que ser feito com calma. E não se esqueçam que o Pedro Emanuel é nosso amigo e que temos lá uma data de jogadores à borla. Ficai tranquilos. Além disso já não perdemos em Coimbra desde o tempo em que o Eusébio ainda andava de Fórmula 1. Tá controlado, carago!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

«Ó homem, você é mesmo um génio!»

Só alguns bitaites, porque tenho de ir estudar.
A Lazio acabou de acertar na barra, no Patrício e de falhar um remate a dois metros da baliza. Quando um homem anda em sorte até o cocó vem mais macio… Hoje acaba 2-1 nem que o Sporting acabe com sete.
O treinador da Lazio está na bancada e começou a brincar com os sócios do Sporting que estão à volta dele. Gosto disto e gosto dele. Está na boa. Gostava, um dia, de voltar a ter um treinador com este carisma no Benfica. Mas que seja, ao mesmo tempo, um mestre da táctica…

Li no Record que o «condutor de homens», o Antero Henrique e um Casimiro qualquer coisa (que deve pertencer à Estrutura) estiveram 15 minutos à conversa com os quatro capitães do Porto no aeroporto. Grande sinal – mas não para os portistas, certamente. Não revela ansiedade nenhuma, não senhor. É o sítio certo para resolver os problemas.
Aqui há uns dias, no Record, na palhaçada, falei no Tripanic que estava a ir ao fundo. Tu queres ver que é mesmo? Meio à deriva já parece andar. Proponho que comecemos a tratar o Vítor Pereira por Grande Timoneiro.

O Grande Timoneiro gosta mais de inventar que o Mestre da Táctica. A minha leitura psicológica é a de que quer um quer o outro necessitam, desesperadamente, de afirmação pessoal. Que lhes digam: «Ó homem, você é mesmo um génio!». Novamente, bom sinal.

Espero que o Kléber esteja pelo menos dois meses agarrado ao ombro. Com o Walter no desmame é a maneira de o Hulk não parar nem para tomar banho. Excelente, a longo prazo. Que gastem já os cartuchos. Em Janeiro o Porto vai buscar dois ou três jogadores, mas pode ser tarde. Reforços de Inverno raramente resultam em alguma coisa de útil.
O grande planeamento do Porto, o «domínio do mercado» de Pinto da Costa, está aí para quem queira ver.

O desempenho físico e anímico dos jogadores do Porto, com Moutinho, Varela, Hulk e Varela à cabeça, faz-me lembrar aqueles atletas que depois de serem campeões olímpicos passam uma ou duas épocas a tratar lesões que nunca tiveram para limparem o organismo da merda que andaram a tomar durante os anos anteriores.
Ah, vocês nunca tinham reparado nisso…
Pois é. Só que numa equipa de futebol é diferente. Não podem todos meter baixa ao mesmo tempo.
Senão acontece o que aconteceu ao Benfica no ano passado…
(Disse Varela duas vezes, não disse? OK, confere.)

Por falar em Benfica, o Emerson é mesmo fraquinho, pá…
Aquilo a bola faz cá uma confusão…

Os Galáticos da Roménia bem me enganaram. Ou eu vi as partes erradas do jogo na Suiça ou são uma equipa que muda do dia para a noite. Tipo Drácula.

«Javi Garcia é o jogador mas sujo do campeonato», disse o Miguel Sousa Tavares na Bola, de acordo com o que vinha na primeira página.
Finalmente. Já era tempo de ser um dos nossos. Mesmo assim joga um bocadinho mais que o Paulinho Santos.
Agora é continuar, se faz favor.

Por falar em sujo, aquilo não podia ter acontecido a uma pessoa mais simpática do que o Fucile.
Que espectacular lição de justiça. Isto sim, é «requintada ironia» - um jogador que passa um jogo a tentar expulsar os outros e que acaba expulso no jogo a seguir por uma perfeita estupidez própria. Como diria Gabriel Alves, «o futebol é isto».

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Bichinhos de contas

Benfica
As tais contas do Jesus eram as contas lógicas: quem pontuasse nos jogos com o Unáite ganhava uma vantagem no minicampeonato dos outsiders que lhe permitiria gerir os outros jogos mais à vontade. Por isso é que pensou que, com o empate em casa, o apuramento estava cinquenta por cento conseguido. Implica isto dizer que o Benfica esteve, na minha opinião e na do Jesus, a cinco minutos de ser eliminado na Champions League – e, curiosamente, quando conseguiu, por fim, ganhar um jogo fora (contra uma equipa que não passaria às eliminatórias da Liga Europa, diga-se de passagem…).

Com o golo do empate do Unáite (o JJ tem razão, dizer assim dá muito mais jeito), e considerando que o Galati não vai fazer nenhum ponto (que é o mais certo) e que o Unáite ganha  ao Benfica em Inglaterra (que é ainda mais certo, porque se não ganhar pode muito bem ir à vida), o minicampeonato Benfica-Basileia vai decidir quem passa.

Façamos contas para o momento da entrada na última jornada do grupo, em que o Basileia recebe o Unáite e o Benfica recebe os romenos na Luz.

Hipótese 1: Benfica e Basileia empatam os dois jogos

M United – 11 pontos
Basileia – 9 pontos
Benfica – 6 pontos

Basileia e Unáite só precisam de empatar para passarem os dois. Péssimo cenário.
Se o Basileia perdesse e o Benfica ganhasse o primeiro critério de desempate válido seria o número de golos fora de casa marcado nos dois jogos entre as duas equipas, depois a diferença de golos em todos os jogos e depois o número de golos marcados.

Hipótese 2: Benfica e Basileia ganham um jogo cada

M United – 11 pontos
Basileia – 10 pontos
Benfica – 7 pontos

Tudo igual, com uma excepção: o Unáite até pode perder, que se apura à mesma.


Hipótese 3: o Benfica ganha um jogo e empata outro

M United – 11 pontos
Basileia – 8 pontos
Benfica – 8 pontos

Neste cenário, basta-lhe ganhar ao Otelul para ser apurado, desde que o Basileia não ganhe ao Unáite. Se o Basileia ganhar ao Unáite entram em jogo os resultados nos confrontos directos entre os três clubes: pontos, diferença de golos, golos marcados e golos marcados fora, por sta ordem. Considerando que o Basileia empatou a três golos em Inglaterra, má ideia.


Resumindo, qualquer cenário que não seja o Benfica fazer quatro pontos com o Basileia significa, muito provavelmente, a eliminação. Depois do empate de Old Trafford, ao Benfica não chega «empatar» o campeonato com o Basileia. Tem de o ganhar. Pode dar-se ao luxo de perder em Manchester, mas não tem qualquer margem para erro: não pode perder e tem, pelo menos, de ganhar um jogo ao Basileia.
Se eu tivesse de apostar agora, friamente – se eu fosse um apostador sem interesses pessoais clubísticos? Apostaria em M. United e Basileia, porque o Basileia conseguiu o melhor resultado do grupo, e o único que estaria, realmente, fora de qualquer previsão.
 

Dito isto, para mim, sinceramente, é quase igual ao litro.
Não posso dizer que me seja indiferente o que o Benfica faz na Europa (ontem sofri como qualquer benfiquista) mas encaro esta temporada europeia com relativa descontracção.
A única coisa que o Benfica tem a ganhar na Europa, este ano, é experiência e dinheiro. Não creio que haja boas hipóteses de, apurando-se para a fase seguinte, passar sequer dos oitavos-de-final. Se o conseguisse seria uma enorme surpresa para mim, e provavelmente estragaria completamente a época. É possível que prolongar a época em mais dois jogos europeus não influencie a prestação no campeonato, mas prolongá-la por mais quatro ou, no caso de apuramento para a Liga Europa, seis ou oito, influenciaria de certeza. Significaria pontos perdidos no campeonato. Para todos os clubes do mundo significa, até para os super-ricos que fazem duas equipas por temporada, quanto mais para o Benfica.
Entre ter mais alguma vantagem no campeonato e prescindir da Europa e ter mais um par de semanas na Europa e perder a vantagem no campeonato, prefiro prescindir da Europa.

É pensar pequeno? É.
É pensar prático? Também é.
É ser realista? Não tenho dúvidas que é.
«Ah, mas o Benfica é feito de pensar grande, não de pensar pequeno», dizem-me. Talvez. Eu prefiro acreditar que é melhor pensar bem que pensar grande. Levámos muita chapada nos últimos vinte anos à custa dessas megalomanias. Pensar grande? Fantástico. Sou completamente a favor. Mas só depois de pensarmos bem, se faz favor.

Antes de o Benfica ser grande passou muitos e muitos anos a ser, apenas, bom. E foi só por ser, primeiro, bom, que depois se tornou grande.
Prefiro ver o Benfica a ganhar na Europa graças ao crescimento da sua equipa do que porque teve um bom sorteio, ou porque teve sorte num jogo. Isso, para mim, não significa nada.

Não gosto de jogar finais. Gosto de as ganhar. Talvez porque as minhas maiores desilusões com o Benfica tenham sido a final da Taça UEFA, em 1982, com o Anderlecht (jogo a que assisti, na Luz, com oito anos, ainda sem o Terceiro Anel do estádio antigo fechado), e a final da Taça dos Campeões com o PSV. Aos que ainda não experimentaram a sensação, acreditem: ir a uma final pode contar para o currículo, mas não vale a pena se a perdermos. Dói demais.
Quando, um dia, chegarmos a jogá-la, que seja para a ganharmos. Nem que demore mais vinte anos.

O cenário ideal? O Benfica passa à fase seguinte da Champions com 11 pontos, enfrenta uma equipa superior (Real Madrid, Barcelona, Bayern, etc) que torne a eliminação rápida e indolor, ganha a sua experiência, «vende», entre prémios e bilheteiras, o seu «Fábio Coentrão» e, a partir de meados de Março, concentra-se exclusivamente no seu objectivo, que é o campeonato.
Tudo o resto, desde a eventual repescagem para a Liga Europa à eventual passagem aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, é um desperdício potencialmente fatal de energia.
E, de preferência, o Porto passa em primeiro do grupo, passa os oitavos e, para ser mesmo bom, ainda chega às meias-finais e anda distraído com quimeras até ao fim de Abril.

Para já, os que se afiguram como primeiros e que podem calhar ao Benfica são: Bayern, Inter, Real Madrid, Chelsea, Marselha, Barcelona. Desde que não saia o Marselha, óptimo.

Porto

O Benfica acabou por ganhar em três campos nesta jornada. Na Roménia, em Manchester (esteve a «perder» até aos 89 minutos) e em São Petersburgo.
O apuramento do Porto, na minha opinião, não está em causa. O Porto fará, no mínimo, dez pontos (três actuais mais seis contra o APOEL mais um, pelo menos, em casa, com o Zenit), e, provavelmente, entre doze e treze, pois deverá ganhar ao Zenit em casa.

O apuramento não está em causa, mas as «mini-férias depois dos jogos com os cipriotas, sim. Com esta derrota, o Porto precisa de jogar até ao fim, até à sexta jornada, em que recebe um Zenit que jogará, provavelmente, o seu apuramento nesse jogo. Ou seja, a primeira fase europeia do Porto vai durar mais um mês, no Inverno, incluindo uma deslocação à Ucrânia que se torna, agora, muito mais importante.

Sorte para o Porto: nesse mês «extra» só há duas jornadas de campeonato.
Azar para o Porto: uma delas é com o Braga.
Sorte para o Porto: o jogo com o Braga é nas Antas.

Outro factor a considerar: para ter melhores hipóteses de passar aos quartos-de-final da Champions, o Porto tem de ficar em primeiro, caso contrário arrisca-se a apanhar Real, Barça, Bayern, Chelsea, Inter ou Unáite.
Para o Porto, fechar a época nos oitavos-de-final da Champions depois de ganhar a Liga Europa não é porreiro, pá.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Championite

Aí está a Champions outra vez.
Benfica

O segundo ciclo de competição do Benfica nesta época, iniciado após a vitória com o Nacional, na Madeira, e a paragem para o jogo da selecção, está a ser, senão o melhor, pelo menos um dos melhores períodos de competição da equipa desde a entrada de Jorge Jesus para treinador.
Todos os resultados conseguidos desde o jogo com o Guimarães, em casa, estiveram no limite óptimo da equipa. Vitória (2-1), Unáite (1-1), Académica (4-1), Porto (1-1) – esta equipa do Benfica não consegue fazer melhor do que isto, mas se jogasse sempre com esta eficácia ao nível dos resultados teria a sua melhor época dos últimos trinta anos.
Já estão a ver onde é que eu quero chegar, certo?

Dos cinquenta jogos a sério que o Benfica tem numa temporada, 5 fazem-nos sonhar a todos, 40 dão para os dois lados, conforme sejamos pessimistas ou optimistas, e 5 levam-nos a desejar o despedimento sumário de toda a gente, a começa pelo treinador.
Preparem os vossos fígados, porque o jogo com o Otelul tem tudo para pertencer a esta última categoria. Como já escrevi há uns tempos, duvido muito que o Benfica consiga dois grandes resultados no conjunto Porto-Otelul, e o que me levava a pensar assim nessa altura é o que me leva a pensar assim agora:

- o jogo no Porto foi física e animicamente exaustivo, e o calendário nem sequer permitiu um dia de descanso antes da viagem, sempre chata, para a Roménia. As pernas não vão responder da mesma maneira e, a partir de certa altura, vamos assistir àquele espectáculo enervante que é estarmos nós em casa a gritar «Ó pá, mexe-te, porra (com C maiúsculo)!» e os jogadores de mãos nas ilhargas, sem gasolina sequer para respirarem de costas direitas. Já vimos isso muitas vezes. O corpo é que manda;

- ciente disto, e da importância que pode vir a ter o jogo com o Paços de Ferreira em casa (Porto joga em Coimbra, Sporting em Guimarães, Braga noutro sítio qualquer – para mim o Braga não conta para o totobola, desculpem lá), o Jesus e a equipa vão considerar o empate um bom resultado. E sabem de uma coisa? Eu, pragmaticamente, estou de acordo.
Pensando profissionalmente, e não com a treta do «todos os jogos são para ganhar», nem todos os jogos são ganháveis, e saber jogar com os resultados é uma parte fundamental de quem anda no futebol profissionalmente.
Um empate na Roménia, num contexto de uma competição interna muito exigente, contra uma equipa que faz a sua estreia em casa para a Champions , que joga, segundo as informações que nos chegam, no limite do colectivismo e da pressão defensiva, que está motivadíssimo e que só perdeu na Suiça, pelo que eu vi, por gritante inexperiência (um handicap que será muito atenuado pelo factor casa), é, a longo prazo, um bom resultado. O que é fundamental é não perder, e montar uma equipa com esse objectivo.
Com um empate na Roménia o Benfica consegue levar a discussão do apuramento para o próximo ciclo competitivo, onde tem os dois jogos com o Basileia após a interrupção para os jogos da Selecção, e com a vantagem de jogar o primeiro em casa, em que a vitória é obrigatória. Além disso, prevejo um jogo muito mais acessível para o Benfica na Suiça que na Roménia, quer pelo valor das equipas quer pelo ambiente que vai encontrar. E é natural que os próprios jogadores encarem os jogos com o Basileia como decisivos depois dos resultados da primeira jornada.
O Jesus é menino para fazer estas contas, e não me surpreenderia se jogasse em Bucareste com a equipa opcional. Qualquer coisa como: Artur, Ruben Amorim, Luisão, Garay, Emerson, Javi, Matic, Bruno César, Saviola, Cardozo e Rodrigo (ou Nolito em vez de Cardozo ou Rodrigo).
Podemos esperar bons jogos dos centrais, dos dois médios defensivos, de Saviola e de Bruno César, que vai ter muito que correr e chutar, como ele gosta. O Benfica vai marcar golos, e eu apostaria no Chuta-Chuta para fazer um neste jogo.

- finalmente, como já escrevi no domingo, o resultado nas Antas tirou, definitivamente, a Champions do lugar prioritário na cabeça de toda a gente, de jogadores a adeptos. E ainda bem, digo eu. Não queremos milhões, queremos campeões. (Olha, bom slogan…)

Porto

O Porto vai passar um mau bocado na Rússia e desta vez o coloquial frio não será, nem de longe, a maior preocupação – até porque ainda não está frio nenhum em São Petersburgo.
Este é um jogo muito importante para o Porto. Se não virmos uma reacção imediata por parte dos jogadores é porque, provavelmente, não voltaremos a assistir a mais nenhuma exibição do gabarito das que assistimos na época passada. É porque o Porto já não tem essa energia dentro de si.
Sei como é que o Porto vai encarar o jogo: vai tentar recuar e reagrupar, levar o jogo para um terreno mental confortável durante 50 ou 60 minutos e, depois de domar o Zenit, arriscará, muito pouco, atacar. Esse recuo estratégico é o comportamento típico do Porto em momentos de dificuldade. Como dizia um professor meu, no ano passado, «um Ranger só recua para ganhar balanço». É o espírito. Mas que vai recuar, vai.

O problema é que o Zenit vai ser o pior adversário possível para o actual momento do Porto. Uma equipa viciada em ganhar em casa, com o apuramento preso por um fio, que encarará este jogo como a única hipótese de recuperar os pontos que perdeu, incrivelmente, no Chipre. Se ganhar ao Porto, o Zenit fará o que mais ninguém no grupo conseguirá fazer, e reabre a possibilidade de decidir o apuramento nos dois jogos com o Shaktar. Se perder ou, até, empatar, o Zenit está eliminado. Estamos a falar de uma equipa que gasta vinte milhões de euros num defesa-central. Estamos a falar da Rússia (sim, estou a falar de corrupção dos árbitros). E estamos a falar, objectivamente, de uma equipa muito boa, a caminho de ganhar o campeonato do seu país, e que está encostada à parede, para quem o apuramento na Champions é um objectivo claro.

Fisicamente, a equipa do Porto não está bem – grande parte das simulações no clássico, além da tentativa de arrancar vermelhos, resultaram na necessidade de abrandar o jogo, e se faltou instinto assassino foi, também, porque faltou força e confiança nas pernas.
Fucile, Álvaro Pereira, Kléber, Hulk têm problemas e não jogariam contra o Zenit e/ou contra a Académica se o treinador tivesse alternativas ao mesmo nível. São dois jogos de exigência elevada.

Uma derrota do Porto não passaria, necessariamente, em branco. Mesmo com a derrota do Zenit no Chipre, perder na Rússia levaria a decisão para dois jogos difíceis, com o Shaktar fora e com Zenit nas Antas, onde a probabilidade de um empate não é assim tão pouca. Por outro lado, com um empate na quarta-feira o Porto assegura o apuramento, pois, com seis pontos com o APOEL, faz os dez, que são sempre suficientes.


Estou, sinceramente, mais curioso em ver o jogo do Porto que o do Benfica, e acredito que uma parte importante do que será o campeonato português dependerá do resultado na Rússia. A possibilidade do Porto fechar o apuramento tão cedo ser-lhe-ia muito útil. Por outro lado, uma derrota retirar-lhe-ia quase toda a vantagem que ganhou com a calendarização, no sorteio.

domingo, 25 de setembro de 2011

Jornada 6 - IRPR

O que pareceu

Um Benfica sem mentalidade e qualidade para ir discutir o jogo taco a taco com o Porto, mas mentalizado para ser campeão, com um objectivo de longo prazo lá no fundo da cabeça a lutar para vir ao de cima mesmo no meio das adversidades. Elas vão surgir, mas dificilmente alguma será tão forte como estar a perder duas vezes em casa do outro candidato ao título.

Um Porto impreparado mentalmente para jogar a cem por cento. É sempre complicado falar em ressaca quando se fala do Porto, porque existe, claramente, uma cultura de trabalho e de vitória, mas o nível de intensidade – independentemente de haver ou não haver o jogador «x» ou «y» - é, sem dúvidas, diferente, como se os jogadores estivessem em descompressão, um pouco (a um nível menor, muito mais profissional) como o que aconteceu ao Benfica o ano passado. Já se viu com o Feirense, com o Guimarães, com o Gil Vicente e noutros jogos.
O Porto joga mal? Não. Mas… o Porto joga menos? Pois…

Da mesma forma, é complicado falar em fragilidade em relação a esta equipa, mas é inegável que o Porto já não parecia tão vulnerável desde precisamente o jogo da Luz, com o Benfica, em 2009. Há dois anos, portanto.
Os pormenores estiveram contra o Porto:

- a ausência de James revelou-se importante. Varela não jogou positivamente nada. São os pormenores – uma expulsão estúpida já depois da hora…;

- Hulk praticamente não treinou durante a semana e acusou o mau momento físico, tal como Álvaro Pereira, um jogador que está e continuará a estar, durante algum tempo, a pagar a factura da Copa América, tal como Maxi Pereira;

- o Benfica só aguentou 90 minutos porque não teve jogo a meio da semana. A equipa estava nitidamente fresca em comparação com o que é normal, em que só dura 70 minutos por causa dos piques destrambelhadas em que insiste em investir:

- o árbitro fez uma das melhores, senão a melhor exibição num Porto-Benfica desde que tenho memória, e não beneficiou em nada o Porto (talvez tenham ficado a preferir que, para o ano, lá vá o corajoso benfiquista Proença outra vez…);

- Kléber está mal fisicamente, Walter é um rotundo (bem rotundo…) «zero», e o Porto viu-se sem mais avançados quando precisou de forçar o ataque.

Um campeão faz-se nos pormenores, e vê-se em alguns momentos particulares. Não fui eu que inventei. Os antigos já tinham detectado esta verdade insofismável. Chamaram-lhe «estrelinha de campeão».
 

Um Sporting na fase «cada cavadela uma minhoca» da sua bipolaridade quântica. Há um rapaz que começa a correr no meio-campo, a defesa abre por todos os lados, a bola carambola em meia dúzia de canelas e vai para a baliza. Na fase «não marcamos um golo nem a tiro e, se dispararmos, a bala faz ricochete na barra e vai matar o nosso guarda-redes do outro lado do campo» da bipolaridade, na mesma jogada a bola bate no poste e sai.
Nem o Sporting do Postiga era tão mau nem o Sporting do Volkswagen é tão bom. O Setúbal, uma equipa de velhos, gordos e maus, só não marcou dois ou três golos devido à corrente estar na fase de polaridade invertida.
O Domingo encontrou o seu onze, o que não é de somenos, e tem de tudo, desde jogadores de futebol americano a craques proféticos. Em relação ao Sporting, apenas uma certeza: não tarda nada volta a descer a Terra. Vamos ver se é como o satélite que se despenhou em paradeiro incerto ou apenas com a suavidade de um elefante pousando sobre um nenúfar.
Mas que eu gostava de saber se o Domingos foi à bruxa, e onde, e com quem, isso gostava…


O que foi

Nota prévia: há um factor de subjectividade no cálculo do Índice de Relação Pressão-Resultado, que é o de ser calculado a partir de uma premissa teórica.
Teoricamente, o empate do Benfica no Porto é, neste momento, um bom resultado para o Benfica, porque está de acordo com o que seria o seu plano para ser campeão (empatar nas Antas e ganhar na Luz), dada a superioridade (novamente, teórica) do adversário. Não o seria se o Benfica precisasse de ganhar.
Pela mesma lógica é um mau resultado para o Porto.

Benfica (IRPR = 0.825) – O melhor desempenho da época para o Benfica, num cenário que só seria mais difícil se o jogo fosse mais perto do fim da época e o Benfica tivesse de ganhar para ser campeão. Da mesma forma, as sucessivas situações de jogo estiveram contra o Benfica – não só as duas desvantagens como a altura em que os golos foram sofridos.
O Benfica teve a seu favor ter os jogadores praticamente todos disponíveis e frescos e pouco mais. Jogo de elevada pressão e resultado positivo.

Porto (IRPR = 0.123) – Sem lesões relevantes, sem jogo a meio da semana, com os golos a aparecerem em boas alturas, com o jogo à mão de semear e praticamente esvaziado de pressão, o Porto teve um clássico relativamente fácil de ganhar. A valia do adversário é real, mas o contexto não corresponde a uma mera comparação de valor futebolístico. O factor psicológico num Porto-Benfica está vincadamente a favor do Porto, que, tradicionalmente já entra a ganhar. O empate era, à partida, um mau resultado para o Porto. E no fim ainda mais.

Sporting (IRPR = 0.080) – Ambiente interno tranquilíssimo (o caso Izmailov já nem sequer é caso, e se não fosse a sportinguite do Record e a tendência para o drama do Choramingos, tinha passado praticamente ao lado da semana futebolística). Vitórias a cair do céu e confiança fácil. Um adversário a cair de maduro que só não levou 6 ou 7 no Dragão por mera felicidade (e mesmo assim levou 3). Um golo aos 2 minutos, dois golos aos sete, três aos trinta, com mais dois ou três falhados em frente ao guarda-redes, e a jogar em casa.
Resultado: um jogo-treino em competição a valer três pontos. Porquê o IRPR tão baixo? Porque o IRPR mede a resposta, em termos de resultado, à PRESSÃO. A pergunta, neste caso, é: qual pressão? Sim, não é pressão zero – mas é pressão 0.080 em 1.00.

O que fica por saber

Começando pelo Sporting, fica por saber, para já, como é que a equipa vai reagir ao aumento de pressão resultante da aproximação pontual à liderança.
A revolução (nos resultados…) do Sporting começou numa conjugação de três factores:

- um jogo completamente atípico em Paços de Ferreira, 0-2 a vinte minutos do fim, 3-2 dez minutos depois, sem que nada o fizesse antever. Um golpe de sorte que se assemelha a golpe de destino, uma injecção de confiança brutal;

- a mudança praticamente integral de toda a equipa, nesse mesmo jogo, passando de ter dois reforços para nove reforços;

- o reconhecimento prático, por via dos pontos perdidos antes do jogo em Paços de Ferreira, de que o Sporting não tinha, de facto, qualquer hipótese de lutar pelo título com Benfica e Porto.

O que fica por saber, basicamente, até ao fim da primeira volta, e a começar já no próximo jogo do campeonato, em Guimarães, é exactamente quanto de cada um destes factores é que determinou a subida de rendimento do Sporting.

A aproximação pontual, como já referi, é, na minha opinião, errónea – o Sporting ainda não teve um jogo realmente difícil (vai ter em Guimarães) e já aproveitou um Porto-Benfica em que ganhou quatro pontos – mas existe, e ao Sporting apresenta-se um cenário bem real: na eventualidade de ganhar em Guimarães e do Porto perder em Coimbra o Sporting ficaria com o mesmo número de pontos do Porto à sétima jornada.
Considerando este aumento de pressão, o jogo europeu a meio da semana e a dificuldade de um Guimarães em recuperação anímica, que sacou um bom resultado com o Braga (ainda não sei como será na Madeira), a próxima jornada será um teste bem mais real para um Sporting bem mais normal. A não ser que haja outro bambúrrio e o jogo fique decidido aos cinco minutos. O que, na corrente actual, também é possível.


O Porto está, não se duvide, num dos momentos mais delicados da época. O Porto, geralmente, tem destas fases. São relativamente curtas e o que fica delas é o que acaba por decidir, em grande parte, o sucesso da sua temporada. Todas as equipas têm quebras.
A do Porto parece, contudo, prematura. Mas está cá, e chega num momento em que tem de ir jogar à Rússia uma parte importante do apuramento na Champions e com uma Académica de Coimbra a fazer um arranque muito bom, fora de casa, quatro dias depois dessa difícil viagem.
A paragem do campeonato vai fazer muito bem ao Porto. Vão recuperar os jogadores e, como bons profissionais que são, vão corrigir agulhas. Resta saber o lastro que estes próximos dois jogos lhe vão deixar.
Há dois anos, por exemplo, o lastro de oito pontos de atraso para o Benfica – que, com um Benfica «normal» seria perfeitamente recuperável, revelou-se fatal.
 

Para o Benfica, duas dúvidas:

- que concentração e que grau de energia física disponível num jogo aparentemente acessível mas, na realidade, muito traiçoeiro, com o Otelul, na Roménia, para a Liga dos Campeões? Suficiente para ganhar? Suficiente para empatar? Ou nem isso?
Uma questão pertinente sobretudo a partir do momento em que, empatando nas Antas, a possibilidade de ganhar o campeonato se tornou muito mais real. As prioridades, neste momento, estão estabelecidas, e não sei sequer se o Jesus não vai (ou mesmo se não devia) aproveitar o jogo na Roménia para poupar alguns jogadores, jogando para o empate e adiando a questão do apuramento para os dois jogos com Basileia.

- que capacidade para, com o Paços de Ferreira, em casa, fazer o mais fácil depois de fazer o mais difícil? A consistência não é, definitivamente, um ponto forte  (é mais um ponto fraco) desta equipa do Benfica. Há dois anos, a sorte acabou por levar a equipa ao colo até ao título. Duvido que este ano a sorte chegue. Mas também acho que esta equipa do Benfica é muito mais madura que a de há dois anos – e por isso é que continuo a achar que será campeã.

sábado, 24 de setembro de 2011

Mais que um jogo

Não, o jogo de ontem não foi apenas mais um resultado, nem o facto de ter sido disputado á sexta jornada lhe retira importância.

1 - Já tinha dito porque razão é que, para mim, os dois jogos entre Porto e Benfica serão fundamentais na luta pelo título. A diferença entre estas duas equipas e as equipas de um chamado terceiro nível do campeonato – Guimarães, Nacional, Marítimo, Académica, Paços de Ferreira –, imediatamente a seguir a Sporting e Braga, é, actualmente, demasiado grande para permitir prever uma perda de pontos significativa nesses jogos. Não digo que não vá acontecer, mas serão poucos pontos. O Benfica já jogou com três dessas equipas e não perdeu nenhum, por exemplo. E é nesses jogos que, em campeonatos em que o campeão não é categórico, se perdem muitos pontos. Isso não acontecerá este ano. Benfica e Porto vão fazer muitos pontos.

Nesta perspectiva o Porto-Benfica de ontem valia sete pontos – três da vitória, mais três da derrota do adversário e um ponto extra num eventual desempate pontual.

Sim, é verdade que nunca aconteceu as equipas chegarem empatadas em pontos ao fim, mas o simples facto de haver essa prerrogativa condiciona a forma de jogar da equipa que está em desvantagem. Uma vitória do Benfica na Luz obrigaria o Porto a fazer mais um ponto do que o que, em princípio, teria de fazer para ser campeão.

É um factor objectivo, que se torna particularmente importante quando se perde poucos pontos e se aponta para uma diferença pontual potencial, no fim do campeonato, de quatro ou cinco pontos entre as duas equipas – dois empates em trinta jogos.

Muitos dos bons resultados conquistados pelo Porto na Luz nos últimos vinte anos resultam tanto da qualidade das suas equipas como da possibilidade de abordarem o jogo de forma defensiva, em que um empate era um bom resultado – tal como o de ontem foi bom para o Benfica, não por ser uma equipa «pequena», como disse o Vítor Pereira. Não me lembro do último empate do Porto na Luz que tenha sido um mau resultado para o Porto, mesmo quando acabava o campeonato com vinte pontos de avanço, mesmo quando o Benfica acabava em terceiro ou quarto. É uma falácia, que desmascara a pressão a que o treinador do Porto está sujeito neste momento.



2 – Continuo a não acreditar na possibilidade de um Sporting campeão. Diz o Record, cheio de fé que o Sporting pode ficar «só» a três pontos da liderança esta noite. Eu digo o contrário, O Sporting ainda não teve um jogo realmente difícil esta época e, na melhor das hipóteses, mesmo depois de já ter havido o Porto-Benfica, pode ficar, na melhor das hipóteses, e com seis jornadas disputadas, a três pontos deles. É muito mau.

Mas há um cenário que, após o empate de ontem, e dado o crescimento natural da equipa, se torna cada vez mais provável: o de o Sporting vir a ter importância indirecta mas decisiva na decisão do primeiro lugar.

Benfica e Porto têm, cada um, seis pontos de alta pressão a disputar com o Sporting, num contexto em que uma derrota pode significar a perda do campeonato.

E aqui há três pontos a considerar:

- Domingos foi contratado para ganhar ao Benfica mas também para vincar distâncias entre Sporting e Porto, e vai sentir mais pressão neste segundo aspecto do que no primeiro. Ou seja, para se afirmar como treinador de corpo e alma no Sporting, Domingos vai ter de pôr mais ênfase no jogo contra o Porto do que no jogo contra o Benfica;

- na primeira volta o Sporting joga na Luz e recebe o Porto. É mais provável que, na altura em que recebe o Porto, o Sporting ainda tenha a época relativamente em aberto, o que será mais difícil de acontecer no final da segunda volta, quando recebe o Benfica e vai às Antas na última jornada. Na Luz, o Sporting vai jogar para o empate. Em Alvalade, com o Porto, vai jogar para ganhar;

- historicamente, é mais fácil ao Benfica encarar para ganhar um jogo com o Sporting do que com o Porto. Da mesma forma, historicamente o Sporting complica bastante a vida ao Porto, porque dá mais importância aos jogos com o Benfica e joga mais à vontade com o Porto. Para o Benfica, é favorável meter o Sporting no barulho do título, pois retira alguma da vantagem que o Porto tem em relação ao Benfica num confronto directo e a dois.



3 – Outro dado revelador da importância do resultado de ontem.

O Porto está a fazer uma época perfeitamente aceitável. Teve um resultado fraco, mas não desastroso (o empate com o Feirense). Todos os outros são resultados normais, incluindo o de ontem, considerando que um clássico é sempre um clássico. Inclusivamente, tem o apuramento para a segunda fase da Champions à distância de um bom resultado, após a vitória com o Donetsk e a derrota do Zenit do Chipre.

Qual é a razão objectiva para haver já tanta contestação a Vítor Pereira? A razão é o complexo Benfica. Um complexo que pode parecer serôdio, dado o ascendente sobre os lisboetas nos últimos anos, mas que continua a ser o motor real da dinâmica portista. O Porto ganha, sobretudo, para ser melhor que o Benfica. Não devia ser, uma vez que já é melhor que o Benfica, mas o Porto não está a conseguir dar o salto mental, e o jogo de ontem foi um péssimo prenúncio.

A operação de limpeza de imagem e de revisionismo histórico que a propaganda do clube está a tentar fazer para dar mais lustro à época dourada do Porto prolongou-se ao jogo de ontem. Para tentarem fazer um contraste com o «antidesportivismo» do apagão da Luz, ontem não houve bolas de golfe, não houve pedradas na televisão, foi tudo muito soft, muito politicamente correcto – até os pequenos cartazes com as frases de psicologia invertida que se viram estrategicamente colocados em volta do campo (no que tem de ser uma manobra organizada pelo próprio departamento interno de comunicação e organização de jogos do clube) eram demasiado pseudo-inteligentes, não apelando à alma mas à razão. Os dirigentes estiveram à vontade, os jogadores portaram-se relativamente bem, muitos sorrisos, muitos abraços, tudo limpinho como o algodão. O Porto tentou usar o jogo de ontem para marcar o início de uma nova era: a era em que, conseguidos os resultados históricos, o Porto já não fazia de um jogo com o Benfica nada de especial.

Correu muito mal. A atitude politicamente correcta não reflecte o espírito real da massa clubista. Para os portistas de base, o grande objectivo continua a ser ganhar ao Benfica. Estão formatados há demasiado tempo nesse sentido. Foram, literalmente, nos últimos trinta anos, educados assim pelo próprio sistema portista. Faltou, ao Porto, a agressividade que lhe deu vantagem nas últimas décadas (uma agressividade extra que, por outro lado, o Benfica raramente sentia necessidade de ter, não fazendo do jogo com o Porto uma ocasião seminal, e que, por isso, o levou a perder tantas vezes), o que indicia que o Porto, pura e simplesmente, não vai conseguir libertar-se do síndroma-Benfica com a facilidade que supõe – havendo mesmo o risco, real, de, não conseguindo dar o salto dimensional para outro lebensraum, para outro espaço vital, cair no mesmo marasmo em que o Benfica caiu, lentamente, quando deixou de ser melhor que o Sporting e Porto e não conseguiu passar a ser melhor que o Liverpool, o Real Madrid ou a Juventus, que eram que estava a seguir.

Novamente, o que faz uma civilização é a sua dinâmica, é o sentido inovador, em contraste com o instinto conservador que sempre se apodera das suas pessoas quando chegam ao ponto de conforto máximo. Faz parte da natureza humana. «A facilidade é inimiga da civilização», disse um grande historiador.

Querem saber porque é que me convenci de que o auge da civilização portista já tinha chegado, e que a partir de agora é, lenta mas inexoravelmente, a cair? Por algo que parece um pormenor, mas que é fundamental: a última grande promessa eleitoral de Pinto da Costa (uma promessa que não tinha de ser feita, note-se). «Fazer o museu do clube antes do final do meu próximo mandato.»

Esta é a mesma pessoa que disse, um dia, e com razão, a propósito de tentar marcar uma diferença entre a glória antiga do Benfica e a glória actual do Porto que «o passado é nos museus». Touché.

As civilizações emergentes não constroem museus. Constroem impérios. Pelo contrário, uma civilização satisfeita sente a obrigação de construir um museu, para mostrar os impérios que já conquistou.

Não digo que um grande clube não possa fazer um museu, pelo contrário, o que digo é que não só fazer um museu é natural como é inevitável. Da mesma forma que é natural e inevitável a decadência que vem depois do apogeu e a necessidade psicológica de guardar e continuar a viver nesse passado.

O Barcelona tem um excelente museu e é a melhor equipa do mundo, mas lembro-me perfeitamente que, há uns anos, o melhor que o Barcelona tinha era o museu, e levou bastante tempo a passar essa fase para voltar a concentrar-se em crescer desportivamente.

Sabem quando é que o Benfica vai dar o seu grande salto real para o futuro? Quando desaparecer o seu museu vivo: quando morrer o Eusébio. Porque aí acabou mesmo uma era.

O resultado que muda um campeonato

Então que tal de profecias, amigos?

Metade já está. O Benfica não só não perde no Dragão como chega à sexta jornada à frente do campeonto.

Como dizia o outro: «Adoro quando um plano bate certo».

Falta a outra metade: o Benfica será campeão, não por ter a melhor equipa mas porque fará o melhor campeonato, aproveitando uma dinâmica ascendente contra uma dinâmica decadente do Porto.



Amanhã, depois do jogo do Sporting, cá estarei para medir as implicações deste empate no campeonato, na minha perspectiva, mas, para já, algumas ideias que retive do jogo do Dragão:



1 – Gostei muito de ver o cartaz do Pinto da Costa a passar de Fórmula 1 moderno pelo Eusébio de Fórmula 1 antigo, porque me recordou de algo extremamente importante (e a que só daremos a devida importância daqui a um bom par de anos): a maior figura na história do Benfica é um jogador de futebol africano semianalfabeto; a maior figura na história do Porto é um político corrupto e monarca absolutista.



2 – Gostei de ver o Artur a levantar o pé à altura do peito do Guarin quando este se chegou a ele a correr armado em atrevido. Quem é que se encolheu? O Guarín. Esta atitude do Artur é precisamente a atitude de predador, de alfa, de que falei. Se eu fosse treinador do Benfica, pegava num vídeo só desse momento, repetia antes de todos os jogos com o Porto, e dizia aos jogadores: «É isto que é preciso fazer.»



3 – Quando é que percebi que o Benfica não ia perder o jogo do Dragão? Quando, com o resultado em 0-1, comprovei o efeito matilha. No lance do Cardozo com o Fucile, da simulação de agressão, que se passou junto à linha de cabeceira do Porto, os jogadores do Porto chegaram primeiro, porque estavam mais perto, mas poucos segundos depois já estavam lá oito do Benfica, que vieram a correr do outro lado do campo. Disse aos amigos com quem vi o jogo: «O Benfica não perde este jogo e é 2-2. E marcamos o 2-2 a poucos minutos do fim, senão é demasiado cedo para aguentamos o empate». Juro. Quando faltavam dez minutos disse-lhes: «Vamos marcar agora.» Foi certinho.

Não falo de ciência. Três dos quatro golos foram fortuitos, resultado de jogadas casuais de entendimento de jogadores, só o primeiro do Porto foi tirado de esquadro e régua. Falo de feeling. Sempre senti que o Benfica não ia perder este jogo.

Assinalo que o Benfica ganhou, na minha opinião, em dois dos quatro parâmetros que assinalei como essenciais para ganhar nas Antas: entrou melhor nas duas partes e foi mais solidário que o Porto. E o golo do empate é um exemplo de objectividade e eficácia. Se tivesse jogado mais simples e mais objectivo, se não tivesse perdido antas bolas divididas, teria ganho, tenho a certeza disso.



4 – Gostei muito da arbitragem. Podia ter feito três ou quatro más expulsões e conseguiu não estragar o jogo apesar das fitas e simulações de alguns jogadores, Fucile à cabeça de todos.



5 – Que ninguém menospreze, nunca, o valor de um jogador inteligente num jogo de alta pressão. Com um segundo de lucidez, inteligência e técnica o Saviola inventou o golo do empate num passe de primeira com o pé esquerdo, a rasgar a defesa, sem olhar, perfeitamente consciente do que fazia.



6 – O Benfica entrou como devia em termos de equipas, revelando audácia, mas ainda não ao nível da mentalidade. Ainda foi demasiadamente submisso. Faltou-lhe força, sobretudo porque lhe faltou equipa para conseguir mais. Mostrou, no entanto, capacidade de revolta. Não desvalorizemos o facto de Jesus ter escolhido os onze melhores, e não os onze melhores para este jogo. É extremamente importante, até em termos de futuro. Mas vamos ser claros: para se tornar melhor que o Porto o Benfica tem de ser mais agressivo, mais ostensivo, mais convicto do seu papel de desafiador. Sem isso limitar-se-á a continuar a fazer alguns bons resultados.



7 – Não me lembro, em quase trinta anos, de ver o Benfica recuperar de duas desvantagens com o Porto, nas Antas. Isto, por si só, justifica o sentimento de vitória, apesar de ter sido um empate. Foi a primeira vez que me lembro de ver o Benfica sair das Antas com um bom resultado não tendo tido, de todo, a sorte do jogo: sofreu um golo a frio a poucos minutos do intervalo e o segundo três minutos depois do empate, já na segunda parte. O Benfica frágil de outras épocas teria caído até ao 3 ou 4-1. Este Benfica aguentou-se. Este facto, por si só, é o que considero a ilação mais importante a retirar do jogo das Antas: o Benfica – esta equipa do Benfica – entrou noutra fase de maturidade, e fê-lo no mais difícil cenário possível. Os níveis de confiança da equipa vão subir brutalmente, sobretudo a nível interno.



8 – Cardozo marcou ao Porto, nas Antas. Também falhou outro em frente ao guarda-redes, mas isso já seria pedir demais. Cardozo também entrou noutra fase de maturidade. Nunca será Falcão, mas já é bem mais que o Cardozo de há dois ou três anos.



9 – Melhor jogador do Benfica: Artur. Aquela defesa frente ao Fucile valeu um jogo e vai valer um campeonato. Chega. Digo mais: é a defesa da vida do Artur, e a defesa da época em Portugal.



10 – O tipo de jogo do Porto após o 2-1 foi revelador de um mau estado anímico da equipa. Falta de instinto assassino. Falta de força. Falta de espírito. Simulações, perdas de tempo, anti-jogo. Uma equipa superior, com um estado de espírito inferior.



11 – Não percamos a perspectiva: para o Benfica, este empate é uma vitória moral, o que ainda revela as diferenças entre as duas equipas. O Porto continua a ser melhor equipa que o Benfica e a estar num patamar de classe superior. Mas é apenas uma equipa de futebol. O rolo compressor já lá vai. E, digam o que disserem, custa sempre muito descer à Terra, e não é de um momento para o outro.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Onde se ganha um clássico

O que é realmente importante num Porto-Benfica?

Desgraçadamente para os Freitas Lobo deste mundo, que pensam que uma boa táctica decide um jogo, a táctica é apenas um pormenor do jogo. Qualquer táctica é boa quando se impõe à outra, e o que impõe uma táctica à outra não é o posicionamento, mas o desempenho dos jogadores. O que decide um clássico são as coisas simples:



1 – Entrar melhor.

Quer na primeira quer na segunda parte. Por vezes acontece ser contra a corrente que a equipa que entra pior marca, mas não há outra forma de entrar em jogo, e o período crítico é o reinício. A maior parte dos clássicos decide-se na segunda parte, por cansaço, questões disciplinares, reajustamentos tácticos. Uma má entrada na segunda parte é, regra geral, fatal.

Uma equipa que entra melhor, normalmente, mesmo sofrendo o primeiro golo, encontra forma de reagir. Pode acontecer uma equipa que entra melhor – e domina o jogo – perder, mas são excepções que confirmam a regra.



2 – Pensar pequeno.

O que desequilibra um clássico, realmente, não são as grandes jogadas, são os pequenos duelos, que se multiplicam dezenas de vezes durante o jogo. A equipa que ganha o jogo é a equipa que ganha mais confrontos imediatos, mais bolas divididas, a que arranca primeiro e a que chega primeiro, a que mete o pé por cima. Algumas vezes, esses múltiplos confrontos individuais são tão equilibrados que o jogo se mantém igualmente equilibrado, mas assim que há uma equipa a ganhar o ascendente, a ganhar mais confrontos individuais, a dinâmica do jogo altera-se rapidamente e as pequenas vantagens tornam-se num caudal que pode resultar numa torrente. Depois de uma equipa ganhar ascendente e confiança, a outra encontra-se à sua mercê, e a questão passa a ser não quem ganha mas o que é preciso a equipa dominadora fazer para ganhar. Pois fá-lo-á.



3 – Jogar objectivamente.

A concentração no objectivo é fundamental, e a simplicidade de processos também. São jogos de desgaste intenso, porque a tensão torna tudo mais árduo e cansativo. A equipa que joga mais simples, com maior economia de esforço, e sem rodeios, está mais perto de ganhar. Todos os jogos de futebol, independentemente das equipas e do contexto, são, em oitenta por cento, batalhas físicas. A equipa com maior capacidade física tem grandes possibilidades de ganhar ou, pelo menos, de não perder. Uma das vantagens históricas do Porto é jogar um tipo de jogo de maior concentração nos pequenos espaços, na corrida curta, no chamado futebol apoiado. Ao fazer isso está quer a reduzir o esforço individual quer o risco de perder as pequenas batalhas, e a ganhar ascendente físico e anímico. Ao mesmo tempo, apela ao colectivo.

Primeira regra fundamental do futebol (e do basquetebol, e do andebol, etc): a bola corre sempre mais depressa do que o jogador. Um passe é a forma mais rápida de ligar dois pontos. E de passar por um defesa. E de poupar energia.

Segunda regra fundamental: o gesto mais importante do jogo é o remate. O objectivo do jogo é o golo. Fazer bem é mais importante que fazer muito. Um golo muda tudo. As equipas inglesas passaram mais de vinte anos a jogar sem meio-campo  e ganhar jogos com golos de ressalto, na pequena-área, ou com quatro ou cinco jogadores na grande área à espera de uma segunda bola. O seu lema? Qualquer coisa como «keep it simple, stupid». O que continua a distinguir uma boa equipa de uma equipa melhor é a facilidade em fazer golos (e e por isso que o Jesus insiste no Cardozo, mesmo sendo um avançado de segunda categoria).



4 – O espírito de matilha.

Até podem estar lá só a separar, ou a fazer de conta que se importam com o companheiro que foi empurrado, mas a equipa que tiver menos jogadores no molho quando houver a primeira confusão é a equipa que vai perder o jogo. Contem.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O grande desafio

«Todos os dias, na savana, um leão tenta caçar uma gazela. Todos os dias, na savana, uma gazela tenta fugir de um leão. Quer sejas um leão ou uma gazela, quando o sol nasce na savana é bom que estejas a correr.»

Frase inscrita no balneário de Maurice Green, ex-recordista mundial dos 100 metros

O sentimento mais natural de um benfiquista quando o Benfica joga nas Antas é o medo. O trauma induz o medo, e a experiência do Benfica nas Antas durante os últimos trinta anos (pelo menos) é traumática. Não há razão para não ter medo. O mais provável, nestas décadas, tem sido perder. No ano passado o Benfica foi humilhado por 5-0. O estádio do Porto é, literalmente, por uma conjugação histórica e conjuntural de factores, o pior sítio do mundo para o Benfica jogar. É mais a fácil para o Benfica jogar no Camp Nou que no estádio do Dragão. Reconhecer este medo é o primeiro passo fundamental para o Benfica se tornar novamente melhor que o Porto. A negação do problema implica também a negação da resolução do problema.

No futebol, como na vida, só há duas abordagens possíveis: ou se é presa ou se é predador. Não existe um meio termo e há lugar para os dois.

Há, também , diferentes tipos de presas e diferentes tipos de predadores. Cada um tem as suas características.
Há presas que apostam na velocidade (as gazelas), outras na camuflagem (centenas de insectos), outras na agressividade (os porcos-espinhos, ou os sapos venenosos, por exemplo), outras na organização e no número (os cardumes de peixes, ou os bandos de pássaros)
Da mesma forma, apesar de um predador ser capaz de utilizar muitas armas e estratégias em simultâneo, há os predadores que são mais furtivos (o tigre, a aranha), ou mais ostensivos (os tubarões, os crocodilos), os que trabalham isolados (o leopardo), ou em grupo (os leões), há os oportunistas (as hienas), etc.

Independentemente das características, há, no entanto, uma coisa fundamental que diferencia uma presa de um predador: a atitude. A forma como reage. A sua abordagem ao meio que o envolve.
 
No futebol, como em tudo o que há, existem os clubes que nunca deixarão de ser presas, porque não têm ou a dimensão, ou a agressividade natural, ou não existem num contexto específico que lhes permita serem predadores. Para estes clubes, a sobrevivência vai-se garantindo pela mera resistência, encontrando soluções para se defenderem da extinção e prolongarem a sua existência.
E depois há os outros clubes, os predadores. Um predador puro é um predador puro, e um grande clube português, como o Benfica, o Porto ou o Sporting, são predadores puros. A sua questão não é a sobrevivência, não é a mera subsistência – a sua questão é o domínio, quer sobre as presas quer sobre os outros predadores. Quando falamos de Benfica, Porto ou Sporting já não falamos apenas de jogo, de desporto: falamos de poder, de força e de política.

Não tenhamos ilusões: o Porto não se tornou no mais forte clube de Portugal por passar a usar estes ou aqueles jogadores, este ou aquele estilo de jogo, este ou aquele discurso, este ou aquele sistema mafioso, esta ou aquela solução – o Porto começou a tornar-se no que é actualmente quando, por causa de Pedroto, deixou de ser caça para passar a ser caçador. E entendamo-nos: o Porto nunca foi caça, apenas se permitiu pensar que era,  por isso andou décadas a tentar sobreviver.

Neste sentido, a revolução benfiquista já começou. A mentalidade do Benfica está a mudar – de outra forma, não tanto por causa de uma individualidade catalisadora, como o Porto, mas mais por uma espécie de osmose colectiva, mais lenta, menos ostensiva, mas, acredito, mais passível de se prolongar no tempo por estar a ser construída sob alicerces diferentes, mais pluralistas, com maior capacidade de vir a eliminar internamente anti-corpos. (O unanimismo tem tendência para consumir o sistema por dentro quando o factor de unanimidade desaparece.)

Os tempos estão a mudar. Mas há um factor fundamental que o Benfica vai ter de enfrentar neste processo: os «alfas», os dominantes, raramente caem de velhos. Os pretendentes, geralmente, não lhes dão tempo para isso. Deixar o anterior líder cair de velho não é uma verdadeira solução, porque qualquer solução que passe por aí resulta num líder mais fraco e, logo, mais vulnerável que o anterior. Uma liderança ganha pela fragilidade do inimigo é uma liderança débil e inevitavelmente curta. Ou seja, se o Benfica não bate o «pintismo» enquanto este está no seu apogeu, na sua forma máxima ou perto disso, o pintismo  (uma nova forma de pintismo, quer do Porto quer do Sporting) voltará a conquistar o poder. E o Benfica só o reconquistará, de facto, quando conseguir ser mais forte que os pintismos.

A solução para o Benfica passar a ser melhor que o Porto não é mudar de atitude, mas mudar de soluções, mantendo a atitude, porque só há uma atitude possível para o Benfica: uma atitude de força ostensiva e de desafio claro. Existe um factor de nobreza que está implícito no poder e na política, como no desporto. Os oportunistas sobrevivem mais tempo – as verdadeiras rainhas da savana são as hienas, não os leões – mas falta-lhes nobreza. Um campeão tem de ser nobre. O Homem não está disposto a aclamar um campeão que não tenha nobreza. A aturar, sim. A admirar, não.

Dito tudo isto, imaginemos que o Porto é um grande e forte crocodilo no pântano que é o futebol português, e que o Benfica é o crocodilo que quer passar a ser o chefe do pântano. O Benfica pode ganhar uma batalha ao crocodilo grande fingindo que é um aligatór inofensivo e mais pequeno, enganando-o, apanhando-o desprevenido. Mas não conseguirá ser o chefe do pântano dessa maneira, porqe depois o crocodilo acorda, abre a boca e arranca a pequena cabeça do aligatór. E o Benfica precisa de ser o chefe, não lhe chega apenas ganhar uma batalha. Essa é a natureza do monstro.

Ganhar um jogo no Porto de dez em dez anos é ganhar um jogo, eventualmente ganhar um campeonato graças a esse jogo. Ganhar sete ou oito jogos em dez, com goleadas à mistura, e sem que se repare, mesmo nas pontuais derrotas, numa inferioridade em relação ao adversário, apenas em azar ou nas contingências daquele jogo específico, é ser melhor.

O problema do Benfica não foi ter levado 5-0 nas Antas. O Real Madrid, o Barcelona, o Manchester, o Milan, todos os grandes clubes do mundo, nas suas piores alturas (e alguns até durante as melhores), já foram goleados pelos seus maiores rivais. O problema foi ter levado 5-0 sem ter, sequer, tentando, fazer uma demonstração de igualdade na força, tentando fugir entre os pingos da chuva, não conseguindo fazer do medo coragem.

De todos os jogos que o Benfica faz durante uma época, há dois – os dois jogos contra o seu verdadeiro adversário – em que só pode ganhar, de facto, no verdadeiro sentido da palavra (conquistar, superar, vencer, suceder por inteiro), se não alterar absolutamente nada em relação ao que é a sua melhor equipa e a sua melhor estratégia.

Ganhar utilizando subterfúgios, esquemas, malandrices, ilusões, é ganhar um jogo e manter um statu quo.
Ganhar valorizando apenas a sua identidade, a sua força, a sua capacidade adquirida, ganhar mostrando que o seu melhor é melhor que o melhor que o adversário, é alterar o statu quo. É dizer: «Nós não estamos apenas melhor: nós somos os melhores. E agora vocês têm um problema.»
Não há segredos nenhuns. Um duelo entre pretendentes tem de ser duro, agressivo, inclemente, o que for, mas tem, sobretudo, de ser simples, suficientemente simples para tornar a verdade evidente a todos.

Independentemente do resultado, o Benfica perderá o jogo de sexta-feira se o tentar ganhar apenas com recurso a artifícios tácticos ou estratégicos, a adaptações da treta ou apenas à sorte do jogo ou a uma decisão do árbitro.

O Benfica ganhará o jogo se conseguir um resultado positivo recorrendo à sua melhor equipa, jogando o seu jogo e assumindo a sua natureza de predador, sem vergonha, com medo, claro, com adrenalina, mas com coragem para vencer esse medo.

Se fizer isto e perder, o Benfica terá perdido apenas uma batalha, e não terá de mudar a sua atitude, apenas precisará de se tornar mais forte para, com a mesma filosofia, voltar a desafiar o campeão daqui a seis meses, ou daqui a um ano, ou daqui a dezoito meses, e assim sucessivamente até se ter tornado mais forte, e não apenas mais oportuno. Não há drama numa derrota quando uma derrota se resume à falta de força. Força ganha-se. Uma derrota torna-se dramática quando resulta da falta de espírito.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Jornada 5

Falar em sorte parece uma espécie de ácido intelectual: se há sorte, não faz sentido raciocinar, porque o que decide é a sorte, o que fazemos é sempre secundário. Por um lado é assim, por outro, não é bem.

Os jogadores de futebol (que, mais tarde, são os treinadores de futebol) não são pessoas particularmente brilhantes de inteligência, mas estão muito ligados à terra, e sabem reconhecer alguma coisa quando a vêem. Eles não perdem muito tempo a pensar na sorte, se existe, se não existe, como é que funciona, mas sabem que existe porque a vêem, todas as semanas, todos os dias, em todos os treinos, quando jogam. É por isso que são tão supersticiosos: porque, mesmo os que compreendem que a sorte dá muito trabalho, sabem que a sorte, às vezes, está acima mesmo do trabalho. Por isso têm os seus rituais, as suas manias, que são a sua forma (básica, à futebolista, e não digo isto num sentido depreciativo, quando digo básico quero dizer isso mesmo, básico, de base, da terra, sem grandes complexidades filosóficas) de viverem com a sorte.
Os dirigentes, que também não são parvos e que também sabem reconhecer a existência da sorte, sentem a necessidade de não serem tão básicos. Afinal, eles é que são os presidentes da Junta. E assim, de vez em quando, lá nos aparecem os Zandingas, os Delanos  Vieiras, os Alexandrinos, as histórias dos sapos enterrados vivos dentro da baliza, dos carrinhos de supermercado cheios de comida para os sem-abrigo, mesmo envolvendo os mais racionalistas dos homens da bola – já para não falar das capelinhas na praia e das romarias a Fátima.
A superstição não tem a ver com um défice de inteligência – tem a ver com um excesso de energia. Os homens da bola pensam menos que os outros, mas vêem mais e falam melhor com os elementos, incluindo o elemento esotérico.

Quem vê um jogo de futebol ao nível da relva, como eu vi no domingo, pela mera proximidade com o jogo, apercebe-se, inevitavelmente, da influência da sorte. É verdade que, na maior parte das vezes, o que se atribui à sorte, na verdade, não é – é falta de concentração, de força, de jeito, de trabalho, de trabalho de equipa. Mas, ainda assim, é impressionante a quantidade de vezes que, durante um jogo, se perde ou se ganha uma jogada, em qualquer momento e em qualquer ponto do terreno, porque há uma perna cinco centímetros acima do que devia, ou um movimento de braço um milésimo de segundo atrasado, ou uma parte da relva que está mais alta, ou mais escorregadia, ou porque há alguém que tropeça, ou porque a bola bate numa cabeça. E já não falo nos erros não-provocados de uma equipa que ajudam a outra sem que esta tenha feito nada por isso. Ainda agora vi na televisão um atraso para o Rui Patrício quase dar em auto-golo por causa de um alto da relva. Claro que se não atrasarem a bola para o guarda-redes isto não acontecia – mas, e se isto acontecesse num caso em que o atraso era a única ou a melhor opção? Qual é a diferença entre dar ou não dar golo? Sorte ou azar. Não existe erro, nem intenção, nem falta de concentração. Existe o imponderável, mesmo que esse imponderável não seja, realmente, imponderável mas apenas considerado como tal por ser uma hipótese tão distante que não faz sentido ponderar.
O positivismo extremo, racionalista, diz-nos que tudo é matemático. Teoricamente, é verdade.  Na prática, a teoria é outra. O homem prático sabe que existe uma matemática que está para além do domínio e da compreensão humana. Chamamos-lhe sorte.

O que é que me pareceu a jornada? Pareceu-me que, de todas as jornadas, é impossível passar por esta sem falar em sorte.

Porto
Com ou sem 45 minutos oferecidos, com ou sem Hulk, com ou sem ponta-de-lança (e quem fala no domínio de mercado deveria explicar como é que, lesionando-se a segunda opção, que é o que o Kléber era no início do ano, e sabendo-se que a terceira nunca foi opção, o Porto não tem um avançado centro), com ou sem bolas na barra, com ou sem penáltis, o Porto fez contra o Feirense – uma equipa arranjadinha e competitiva, como são todas as equipas que sobem da II Liga, e por isso é que sobem – exactamente o que fez em vários jogos da época passada: o suficiente para ganhar. Qual é a diferença? Pois…

Vamos a ver se nos entendemos: uma boa equipa tem menos vezes «azar» do que uma equipa menos boa. A qualidade chama a sorte, e a facilidade chama o azar. Quem não acredita no trabalho não tem o favor da sorte. Mas há uma sorte acima dessa.
Se o Porto não for campeão este ano, como eu acho que não vai ser, não será por ser pior equipa, mas porque não é o seu momento. O ano passado foi. Completamente. De uma forma avassaladora. Mas agora, de repente, a equipa imbatível parece, com erros próprios incluídos, vulnerável. O momento mudou. Terá mudado o suficiente para provocar uma surpresa? Creio que sim porque, tal como escrevi no princípio daépoca, mais importante que a qualidade é a dinâmica.

Benfica
O Benfica jogou mais do que suficiente para ganhar, mostrou as virtudes e as deficiências do costume, já é estrutural – mas teria ganho sem a sorte do jogo? Sem aquela carambolada do Nolito no minuto a seguir a ter sofrido o golo do empate perante uma equipa incisiva e animada à beira do intervalo, o Benfica teria ganho o jogo? É claro que há mérito, vontade, agressividade do jogador numa jogada dele contra o mundo, mas quantas vezes já não vimos jogadas iguais a acabarem nas pernas dos defesas? Centenas. Milhares.
O «se», evidentemente, é incomprovável, mas quantas vezes já vimos esse filme?

Começa a cheirar a título na Luz. A crença irracional, que até há pouco parecia infundada e mero fruto da fé pura tal era a distância entre as duas equipas, começa a estar mais baseada na realidade. Há jogadores novos que são reforços, há mais dinâmica, mais concentração, mais vontade. Sim, é verdade. Mas ao que cheira a sério é a estrelinha. Com o Feirense, com Nacional, com o Vitória, com a Académica…
E acreditem numa coisa: por melhor que um jogador seja ou por mais que trabalhe, por mais que ele confie em si próprio, não há nada que um futebolista tema mais ou em que acredite mais do que na estrelinha. A grande confiança de um jogador é a confiança de que a sorte está do seu lado. Vem de ver as pequenas coisas a correrem-lhe bem. É assim, com essas mínimas vitórias, todas acumuladas, que se constrói, lenta e diariamente, uma equipa vencedora.

Sporting
Dois golos e o melhor jogador adversário fora de campo nos cinco minutos iniciais por causa de um toque fortuito. Isto não é ter a sorte do jogo? Então nada é.
Além do Elias, que é um jogador de classe-extra, o Sporting só mostrou duas coisas a mais em relação ao jogo em casa com o Marítimo, por exemplo: a sorte do jogo e a confiança de que conseguiria voltar a marcar depois de sofrer o golo do empate. Da mesma forma que se sentiu, depois do 2-0, que o Sporting não ia conseguir fechar o jogo ali, sentiu-se, logo após o 2-2, que o Sporting não ia baixar os braços. E essa confiança resulta da sorte que a equipa passou a ter, que os jogadores passaram a sentir estar do seu lado.

Tudo o resto, os erros colectivos e individuais, a inconsistência, está tudo lá na mesma medida. Este Sporting, que agora parece tão bom porque está com sorte, vai perder mais pontos (pelo menos mais oito só até ao fim da primeira volta) e não tem hipótese de ser campeão, porque continua a ser uma equipa, ainda que acima da média, perfeitamente vulnerável.

Só para tomar nota: mais um frango do Patrício. O Patrício só ainda não saiu da equipa porque o Sporting, pura e simplesmente, não tem mais ninguém para meter na baliza. O Eduardo, no Sporting, neste momento, já era titular.

O que foi

Sporting (IRPR = 0.230) – Os cinco minutos iniciais do jogo retiraram, ao Sporting, grande parte de uma pressão exterior que o adversário e o local do jogo implicavam. Algumas ausências por lesão (izmailov, que já não conta muito, e Jeffren, à qual a equipa também já se adaptou) e relativamente pouca pressão no que respeita a resultados recentes. Os jogadores estão mais à vontade, menos pressionados, que há três semanas.

Benfica (IRPR = 0.215) – Situação de potencial pressão alta, com empate sofrido à beira do intervalo, desarmada pela sorte do jogo com um golo em jogada individual no minuto seguinte. Bom adversário, em bom momento, proximidade com o jogo com o Manchester na quarta-feira anterior ainda a pesar nas opções mas, não nos esqueçamos, jogo em casa e com as alterações na equipa a resultarem de opção técnica e não de impossibilidade.

Porto (IRPR = 0.072) – Lesões a complicarem, ressaca europeia, mas adversário perfeitamente acessível num estádio neutro. Jogadas de golo iminente não marcadas, é verdade, mas outras iguais na sua baliza. A pior prestação da época do Porto se não se considerar a derrota com o Barcelona.


O que fica por saber

A grande dúvida do campeonato, no fundo: dinâmicas diferentes (leve mas contínua depressão do Porto, leve mas contínuo ascendente do Benfica), encontrando-se na próxima sexta-feira, serão suficientes para anular a diferença de qualidade entre as duas equipas, num ambiente extremamente favorável ao Porto?
Por quem é que a sorte vai jogar?

Conseguirá o Sporting não perder mais pontos até ao jogo da Luz, na 11.ª jornada – Setúbal, c; Guimarães, f; Gil Vicente, c; Feirense, f; Leiria, c – e reentrar na luta pelo segundo lugar?
Não esqueçamos as cinco últimas jornadas do Sporting na primeira volta: Benfica, Nacional (c), Académica, Porto (c) e Braga. Se o Sporting não estiver aqui a cem por cento já não vale a pena.

Patrício, a bem da Selecção, vê como se faz (e agora digam que é só saber, acertar com um melão no meio de dois paus a 60 metros de distância...):


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um domingo excepcional

Começou com um golo do outro mundo do Nani e com o Unáite a espetar 3 secos ao Chélsia ao intervalo. Depois do intervalo o Rúnei marcou o pior penálti da sua vida e o Fernando Torres falhou um golo a três metros da baliza e sem guarda-redes. Grande joga. Mas um Chélsia em que o Raul Meireles tira o lugar ao Franque Lampard é um Chélsia sem hipóteses de ganhar mais nada enquanto não mudar de vida. O Unáite foi o Nani e mais dez.
Encontrei a primeira diferença entre o Mourinho e o Villas-Boas: o Chélsia do Mourinho jogava como o Chélsia do Mourinho; o Chélsia do Villas-Boas joga como o Porto do Villas-Boas.
Ao intervalo, o Férgusan e o Villas-Boas vinham a conversar. O André parecia um netinho a queixar-se da sorte ao avô. O avô ria-se do miúdo.

O Atlético, o meu outro clube, isola-se à frente da II Liga no dia de aniversário. O Atlético, perceba-se, não joga nada. Surreal. Já só lhe faltam vinte pontos para a manutenção dos trinta que faltavam há quatro jornadas.

Não vi o jogo do Porto, e é sempre difícil dizer que uma equipa da dimensão do Porto perde (ou empata, o que é igual) com um Feirense porque não joga um jogador ou dois – bastava uma daquelas carambolas ter entrado e falava-se agora de uma gestão perfeita… - mas vejo com alguma satisfação que se questione a gestão do Hulk e da sua lesão, sobretudo depois de ter feito um jogo e meio em menos de 24 horas, sendo o meio apenas pela selecção do Brasil.
Eu não acredito numa Givanildo-dependência (Vaginildodependência? Vaginodependência?) da equipa do Porto, porque, de facto, o estilo de jogo é demasiado colectivo para depender tanto de um jogador, mas há quem acredite, e a aparência da verdade, por vezes, é mais importante do que a verdade em si. A instabilidade não decorre sempre de razões verdadeiras. Às vezes a sugestão chega, sobretudo quando se gera desconfiança, quando os resultados não aparecem, quando não se ganha ao Benfica em casa…

Deixo a minha leitura deste empate para amanhã – até porque gostava de ainda poder ver pelo menos um resumo do jogo – mas é curioso que o Porto empate a zero com o Feirense, num estádio neutro, no dia em que o Falcão marca três golos pelo Atlético de Madrid.

O Real Madrid perdeu com o Levante por 1-0, um dia depois do Barça ter espetado 8 ao Osasuna, e já está atrás outra vez. As coisas são tão equilibradas e tão desproporcionadas entre eles e os outros que esta derrota pode ser o suficiente para perder o campeonato. Um empate com o Levante, é contornável. Uma derrota, é complicado. O único jogo que o Real poderia perder para ser campeão, no estado actual de coisas em Espanha, seria com o Barça em Camp Nou.

O Benfica ganha 4-1 à Académica com o Jesus a rodar a equipa praticamente toda do meio-campo para a frente – até tirou o Javi, o que eu não esperava. Fez o que tinha a fazer e o Benfica ganhou a um adversário forte, que joga bem e que só não voltou a lixar-lhe o campeonato porque, tendo a sorte de fazer o golo do empate na melhor altura, teve o azar de sofrer o golo decisivo na altura ainda melhor que a melhor altura: na jogada a seguir.


Os benfiquistas não sabem como aquilo aconteceu, não compreendem a sorte que tiveram contra um adversário que parecia encomendado para deitar vinagre na sopa, mas eu explico.

O mérito é meu, porque levei o meu filhote à bola pela primeira vez. O 2-1 aconteceu precisamente no momento em que eu o estava a levar a casa-de-banho. Estávamos lá dentro quando foi golo. Sem aquela ida à casa-de-banho teria sido uma noite desastrosa.
Quem quiser acreditar em coincidências que acredite. Eu (que não sou supersticioso), acredito em sinais. Ontem, dia em que levei o meu miúdo a ver o Benfica e fui recompensado pela audácia, começou uma nova era no futebol mundial.

Hoje começa a faculdade. Juntando ao trabalho, aos filhos e ao tempo para dormir, comer e passar no trânsito, já não vou ter mais tempo para testamentos. Mas espero conseguir continuar a postar todos os dias, nuns mais do que noutros.

 Ficam as palavras mágicas: «Papá, quero ir fazer chichi.»