quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Bichinhos de contas

Benfica
As tais contas do Jesus eram as contas lógicas: quem pontuasse nos jogos com o Unáite ganhava uma vantagem no minicampeonato dos outsiders que lhe permitiria gerir os outros jogos mais à vontade. Por isso é que pensou que, com o empate em casa, o apuramento estava cinquenta por cento conseguido. Implica isto dizer que o Benfica esteve, na minha opinião e na do Jesus, a cinco minutos de ser eliminado na Champions League – e, curiosamente, quando conseguiu, por fim, ganhar um jogo fora (contra uma equipa que não passaria às eliminatórias da Liga Europa, diga-se de passagem…).

Com o golo do empate do Unáite (o JJ tem razão, dizer assim dá muito mais jeito), e considerando que o Galati não vai fazer nenhum ponto (que é o mais certo) e que o Unáite ganha  ao Benfica em Inglaterra (que é ainda mais certo, porque se não ganhar pode muito bem ir à vida), o minicampeonato Benfica-Basileia vai decidir quem passa.

Façamos contas para o momento da entrada na última jornada do grupo, em que o Basileia recebe o Unáite e o Benfica recebe os romenos na Luz.

Hipótese 1: Benfica e Basileia empatam os dois jogos

M United – 11 pontos
Basileia – 9 pontos
Benfica – 6 pontos

Basileia e Unáite só precisam de empatar para passarem os dois. Péssimo cenário.
Se o Basileia perdesse e o Benfica ganhasse o primeiro critério de desempate válido seria o número de golos fora de casa marcado nos dois jogos entre as duas equipas, depois a diferença de golos em todos os jogos e depois o número de golos marcados.

Hipótese 2: Benfica e Basileia ganham um jogo cada

M United – 11 pontos
Basileia – 10 pontos
Benfica – 7 pontos

Tudo igual, com uma excepção: o Unáite até pode perder, que se apura à mesma.


Hipótese 3: o Benfica ganha um jogo e empata outro

M United – 11 pontos
Basileia – 8 pontos
Benfica – 8 pontos

Neste cenário, basta-lhe ganhar ao Otelul para ser apurado, desde que o Basileia não ganhe ao Unáite. Se o Basileia ganhar ao Unáite entram em jogo os resultados nos confrontos directos entre os três clubes: pontos, diferença de golos, golos marcados e golos marcados fora, por sta ordem. Considerando que o Basileia empatou a três golos em Inglaterra, má ideia.


Resumindo, qualquer cenário que não seja o Benfica fazer quatro pontos com o Basileia significa, muito provavelmente, a eliminação. Depois do empate de Old Trafford, ao Benfica não chega «empatar» o campeonato com o Basileia. Tem de o ganhar. Pode dar-se ao luxo de perder em Manchester, mas não tem qualquer margem para erro: não pode perder e tem, pelo menos, de ganhar um jogo ao Basileia.
Se eu tivesse de apostar agora, friamente – se eu fosse um apostador sem interesses pessoais clubísticos? Apostaria em M. United e Basileia, porque o Basileia conseguiu o melhor resultado do grupo, e o único que estaria, realmente, fora de qualquer previsão.
 

Dito isto, para mim, sinceramente, é quase igual ao litro.
Não posso dizer que me seja indiferente o que o Benfica faz na Europa (ontem sofri como qualquer benfiquista) mas encaro esta temporada europeia com relativa descontracção.
A única coisa que o Benfica tem a ganhar na Europa, este ano, é experiência e dinheiro. Não creio que haja boas hipóteses de, apurando-se para a fase seguinte, passar sequer dos oitavos-de-final. Se o conseguisse seria uma enorme surpresa para mim, e provavelmente estragaria completamente a época. É possível que prolongar a época em mais dois jogos europeus não influencie a prestação no campeonato, mas prolongá-la por mais quatro ou, no caso de apuramento para a Liga Europa, seis ou oito, influenciaria de certeza. Significaria pontos perdidos no campeonato. Para todos os clubes do mundo significa, até para os super-ricos que fazem duas equipas por temporada, quanto mais para o Benfica.
Entre ter mais alguma vantagem no campeonato e prescindir da Europa e ter mais um par de semanas na Europa e perder a vantagem no campeonato, prefiro prescindir da Europa.

É pensar pequeno? É.
É pensar prático? Também é.
É ser realista? Não tenho dúvidas que é.
«Ah, mas o Benfica é feito de pensar grande, não de pensar pequeno», dizem-me. Talvez. Eu prefiro acreditar que é melhor pensar bem que pensar grande. Levámos muita chapada nos últimos vinte anos à custa dessas megalomanias. Pensar grande? Fantástico. Sou completamente a favor. Mas só depois de pensarmos bem, se faz favor.

Antes de o Benfica ser grande passou muitos e muitos anos a ser, apenas, bom. E foi só por ser, primeiro, bom, que depois se tornou grande.
Prefiro ver o Benfica a ganhar na Europa graças ao crescimento da sua equipa do que porque teve um bom sorteio, ou porque teve sorte num jogo. Isso, para mim, não significa nada.

Não gosto de jogar finais. Gosto de as ganhar. Talvez porque as minhas maiores desilusões com o Benfica tenham sido a final da Taça UEFA, em 1982, com o Anderlecht (jogo a que assisti, na Luz, com oito anos, ainda sem o Terceiro Anel do estádio antigo fechado), e a final da Taça dos Campeões com o PSV. Aos que ainda não experimentaram a sensação, acreditem: ir a uma final pode contar para o currículo, mas não vale a pena se a perdermos. Dói demais.
Quando, um dia, chegarmos a jogá-la, que seja para a ganharmos. Nem que demore mais vinte anos.

O cenário ideal? O Benfica passa à fase seguinte da Champions com 11 pontos, enfrenta uma equipa superior (Real Madrid, Barcelona, Bayern, etc) que torne a eliminação rápida e indolor, ganha a sua experiência, «vende», entre prémios e bilheteiras, o seu «Fábio Coentrão» e, a partir de meados de Março, concentra-se exclusivamente no seu objectivo, que é o campeonato.
Tudo o resto, desde a eventual repescagem para a Liga Europa à eventual passagem aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, é um desperdício potencialmente fatal de energia.
E, de preferência, o Porto passa em primeiro do grupo, passa os oitavos e, para ser mesmo bom, ainda chega às meias-finais e anda distraído com quimeras até ao fim de Abril.

Para já, os que se afiguram como primeiros e que podem calhar ao Benfica são: Bayern, Inter, Real Madrid, Chelsea, Marselha, Barcelona. Desde que não saia o Marselha, óptimo.

Porto

O Benfica acabou por ganhar em três campos nesta jornada. Na Roménia, em Manchester (esteve a «perder» até aos 89 minutos) e em São Petersburgo.
O apuramento do Porto, na minha opinião, não está em causa. O Porto fará, no mínimo, dez pontos (três actuais mais seis contra o APOEL mais um, pelo menos, em casa, com o Zenit), e, provavelmente, entre doze e treze, pois deverá ganhar ao Zenit em casa.

O apuramento não está em causa, mas as «mini-férias depois dos jogos com os cipriotas, sim. Com esta derrota, o Porto precisa de jogar até ao fim, até à sexta jornada, em que recebe um Zenit que jogará, provavelmente, o seu apuramento nesse jogo. Ou seja, a primeira fase europeia do Porto vai durar mais um mês, no Inverno, incluindo uma deslocação à Ucrânia que se torna, agora, muito mais importante.

Sorte para o Porto: nesse mês «extra» só há duas jornadas de campeonato.
Azar para o Porto: uma delas é com o Braga.
Sorte para o Porto: o jogo com o Braga é nas Antas.

Outro factor a considerar: para ter melhores hipóteses de passar aos quartos-de-final da Champions, o Porto tem de ficar em primeiro, caso contrário arrisca-se a apanhar Real, Barça, Bayern, Chelsea, Inter ou Unáite.
Para o Porto, fechar a época nos oitavos-de-final da Champions depois de ganhar a Liga Europa não é porreiro, pá.

2 comentários:

  1. As contas complicaram-se mesmo com o resultado do Basileia. Concordo que é essencial empatar na Suiça e vencer na Luz. Também quero crer que o Manchester facilitou, especialmente depois do 2-0, mas ainda assim o empate em Old Trafford é uma chatice. Ainda assim, a impressão sobre o Basileia não muda muito e também não é líquido que ganhem na Roménia.
    Aguardemos. O pior de tudo seria um terceiro lugar, não só pelo falhanço com as consequências daí resultantes, mas mais até por cairmos de novo na Liga Europa. A possibilidade de mais meia duzia de jogos seria muito má.


    Em São Petersburgo, a coisa ia correndo bem demais. Acho que os resultados do Porto têm de ser sofríveis q.b. para os esterilizar desportivamente, mas sem que os leve a despedir aquele belíssimo treinador. Por outro lado, os "gaijos" só têm pedal para a primeira parte dos jogos. Suspeito que estará aí para vir um camião de suplementos nutricionais para ajudar a melhor a forma física daquela equipa de azul (expressão deliciosa usada pelo Witsel para os descrever - o rapaz bem que interiorizou rapidamente a realidade desportiva nacional). O jogo com a filial C ganhou uma curiosidade acrescida.

    Abraço.

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  2. João Gonçalves29/09/2011, 15:08:00

    Concordo com o artigo acima excepto numa questão: depois de ver o que tem feito o Apoel nestes 2 jogos, vitória com o Zenit e empate em casa do Shaktar, não sei se será assim tão fácil o FC Porto passar à próxima fase. Os 6 pontos nos 2 jogos não são "favas contadas"...
    Mas eles que se amanhem...

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